Eu conheço muitas crianças com dificuldades na alimentação, e você?
Sempre escuto pais, familiares e professores comentando alguma dificuldade na alimentação das suas crianças, seja não querer comer, ser super seletivo e não querer experimentar novos alimentos, comer andando de uma lado para o outro ou mesmo só comer diante de uma tela.
É claro que muitas questões relacionadas à alimentação podem ser auxiliadas com o suporte de um nutricionista ou de um médico. Mas nós podemos ajudar as crianças a lidar com essa questão criando para elas uma história terapêutica, que a ajude a lidar com o seu mundo interior e suas dificuldades.
As imagens das histórias podem ajudar nesse processo – e muito!
No post anterior eu compartilhei uma história terapêutica que foi criada para um menino de 4 anos que apresentava comportamentos desafiadores em sala de aula. E a história foi desenvolvida para que ele aprendesse a lidar com frustrações de forma positiva.
Hoje, compartilharei uma história criada também para um menino de 4 anos, mas que tinha dificuldades na hora de se alimentar.
Essa história foi criada em abril de 2022, por um grupo de participantes do curso ‘Histórias Terapêuticas – Criar, Contar, Curar’, no contexto de aprendizagem de criação e escrita de histórias curativas, sob a orientação de Ana Flávia Basso, do Projeto Educar com Histórias. As autoras são: Valquíria Alves Ramos, Maria Fernanda Sampaio e Fátima Araújo.
Para o estudo do caso, o grupo identificou que o menino:
- apresentava resistências à alimentação, em especial à alimentação saudável do dia-a-dia
- expressava medo em relação à comida que tivesse alguma ligação com a terra
- preferia repetir os alimentos que conhecia.
Como intenção da história, ou seja, objetivo para a história terapêutica, o grupo definiu:
Despertar na criança o desejo de conhecer novos frutos, outros sabores;
melhorar a diversidade e qualidade da alimentação.
A seguir, deixo o texto da narrativa:
“O passarinho Tito”
Era uma vez um vilarejo de casas coloridas.
Ao seu lado havia um bosque cheio de árvores, frutas, borboletas, flores e pássaros.
Lá moravam dois pássaros chamados Zé e Tito.
Tito só comia minhocas e, às vezes, não comia nada. Tinha preguiça de procurar comida.
Já o Zé, gostava de procurar coisas diferentes para comer e não queria repetir uma refeição. Achava tudo delicioso!
Sempre fazia uma visita às casas do vilarejo.
Havia uma casa amarela, com comida na janela, onde o Zé ia comer quirera. Hum!
Havia também uma casa rosa, com uma cortina mimosa onde ele comia uma mistura de frutas bem pastosa.
E havia outra casa, a casa verde, uma casa encantadora! Dentro dela tinha muitas surpresas – folhas, insetos, sementes e frutas.
O Zé ficava encantado e aproveitava para se divertir e comer ali.
Um dia, passeando pelo bosque, Tito viu o Zé cantarolando feliz e ficou encantado com o seu som. Sentiu uma coceirinha de curiosidade para descobrir de onde vinha tanta alegria. E assim perguntou:
– “Zé, por que você vive tão feliz, sempre cantarolando?”
E o Zé respondeu assim:
– “Passarinho sai do seu ninho, passeie por esse bosque, vai à casa colorida comer grãos, arroz, hortaliças.
Passarinho, come fruta é bom!
Passarinho, milho, alpiste, é bom!
Passarinho, comendo alface, tomate, cenoura.
Cantou melhor.
Depois de comer tantas coisas,
Cantou melhor!”
Logo, o Tito fechou os olhinhos e se viu cantando bonito, todos os animais do bosque o ouvindo e aplaudindo.
Entusiasmado, perguntou:
– “Zé, eu posso ir contigo, ver as casas coloridas?”
Ele também gostava de cantar e queria cantar bonito, aprendendo novos sons. O Zé se animou e respondeu:
– “Sim, será maravilhoso ter a sua companhia!”
Nesse dia, um dia inesquecível, Tito foi com o Zé às casas coloridas.
Encontrou um lugar mágico, com muitas frutas. Zé já foi logo comendo as jabuticabas, com muito gosto.
Tito olhou para as frutas, olhou para o amigo e ficou na dúvida. Será que é tão gostoso assim?
Zé só sabia bicar as frutinhas e Tito tomou coragem e deu uma bicadinha também.
Hum! Que jabuticaba gostosa!
Enquanto Tito saboreava as jabuticabas, Zé já tinha voado até uma amoreira, com frutinhas maduras e estava se deliciando.
Tito foi atrás e experimentou a fruta desconhecida. Hum! Que amora gostosa!
E assim, passaram toda a manhã, voando de árvore em árvore, comendo as frutinhas saborosas.
Quantos sabores novos!
Quando voltavam para o bosque, Tito começou a cantarolar. Zé arregalou os olhos – como Tito estava cantando bonito e feliz! Voaram juntos, cantando para todo o bosque.
Feliz e cantador como o Zé, Tito seguiu com o amigo e outros passarinhos.
E sabe o que aconteceu?
“Passarinho sai do seu ninho, passeie por esse bosque, vai à casa colorida comer grãos, arroz, hortaliças.
Passarinho, come fruta é bom!
Passarinho, milho, alpiste, é bom!
Passarinho, comendo alface, tomate, cenoura.
Cantou melhor.
Depois de comer tantas coisas,
Cantou melhor!”
Deixarei anexada a melodia da canção que está entre aspas e itálico, para você conhecer como o grupo idealizou essa melodia que lembra passarinho cantando…
A gravação foi feita por celular, por uma das autoras, a Valquíria. Embora a qualidade do áudio não esteja impecável, acredito que você se encantará com a canção!
E também deixarei o link do vídeo no qual eu conto um pouco as etapas do processo de criação da história, para você se familiarizar cada vez mais com as histórias terapêuticas:
Terapêutica e dotada de uma leveza e encanto que com certeza vai surpreender e encantar as crianças.
Fico sempre encantada quando vejo a criação de histórias tão bonitas em cada curso que realizo! Espero que essa história consiga ajudar muitas crianças. Abraços
Amo seu trabalho, obrigada por compartilhar tanto conhecimento, por tanta generosidade.
Muito obrigada por seu carinho e gentileza. Bom tê-la por aqui. Abraços
Boa tarde! Encantada! Obrigada por compartilhar. Tenho planos de aposentadoria em 10 anos e desejo trabalhar contando histórias. Minha avó era uma exímia contadora. Tivemos uma infância privilegiada. Lembro até hoje de muitas delas e achei alguns livros onde ela tirava suas histórias. Ainda não consegui colocar em prática, mas pretendo deixar a vergonha e o medo de lado. Meu objetivo é trabalho voluntário e você é uma inspiração. Obrigada.
Olá, Tereza! Que bom que você já está se preparando para atuar no mundo após a aposentadoria! Fico feliz com seus nobres planos! Abraços