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Logo que a paralisação das escolas começou, devido à pandemia do coronavírus, eu me sentei e escrevi esse texto sobre o brincar da criança e a observação atenta dos pais. Talvez você se pergunte:
Como observar as brincadeiras do meu filho?
O quê eu devo observar?
Para que prestar atenção nisso?
Bem, pretendo solucionar essas dúvidas ao longo do texto abaixo. E instigar outras perguntas!
Quando uma criança brinca, podemos nos deleitar ao observar seus gestos, seus movimentos, sua criatividade e a entrega ao momento presente.
A criança por inteiro se envolve com os objetos que estão disponíveis, o espaço físico ao redor, mergulhada no brincar com seu corpo e toda a sua individualidade. O tempo parece parar e nos sentimos abençoados por podermos compartilhar aqueles momentos…
E quando vemos aquela criança ali, diante de nós, brincando, fazendo algo que só uma criança pode fazer com tanta beleza – brincar – a gente sente que tudo ganha um colorido diferente e, lá no fundo, sentimos saudades de quando éramos crianças, com a mesma entrega e brincávamos assim.
Nesses dias de quarentena, em casa com seus filhos, aproveite para observar como eles brincam. Talvez você tenha filhos em idades diferentes. Faça a observação de cada um, separadamente.
Quando a gente assume a posição de observador – com abertura – passamos a enxergar muitas coisas e nos aproximamos verdadeiramente do nosso filho, de quem ele realmente é e não do que gostaríamos que fosse. Chegamos a sua essência.
Claro que tem muitos momentos de brincar! Mas em qual deles fazer a observação?
Tem a hora em que a criança nos chama e quer a nossa participação na brincadeira, tem o momento em que os irmãos ou a família toda faz a farra. Mas eu sugiro que você comece observando durante aquele momento em que a criança pega um brinquedo e se distrai sozinha, mergulhada no que está fazendo. O momento do brincar livre.
Vou deixar algumas perguntas para te ajudar nessa tarefa e sugiro que você a faça sem interferir e sem julgar se o que a criança está fazendo é certo ou errado.
Ah, e essas perguntas se enquadram muito bem para crianças de 4 a 7 anos. Para as crianças menores, poderíamos acrescentar outras perguntas complementares, pois o brincar delas é diferente, tendo outras qualidades.
Vamos lá!
1. MOVIMENTOS
Como estão os movimentos da criança?
Observe:
- como ela se senta
- como está a sua postura em diferentes posições
- como usa as mãos e pega objetos (existem diferentes tipos de pega)
- como está o olhar
- como está a boca (fica entreaberta, retorcida, apertada, a criança baba)
- como está a respiração (respira pelo nariz, pela boca, a respiração é ofegante, tranquila)
Enfim, note como ela usa o corpo.
2. IMITAÇÃO
O que a criança imita do mundo adulto?
- O que ela leva para o seu brincar?
- Quais elementos ela observa ao seu redor que aparecem nas suas brincadeiras?
- Será que cuida de animais ou de bebês, que ela cozinha, conserta as coisas, limpa, mexe no celular?
- O que ela vê em seu ambiente imediato?
Enfim, veja o que ela está imitando do mundo adulto.
3. NARRATIVAS NO BRINCAR
O que a criança fala enquanto brinca?
- Como está a sua imaginação?
- Quais histórias ela inventa e conta enquanto brinca?
- Que elementos aparecem na sua narrativa?
- Que palavras ela usa?
4. BRINQUEDOS PREFERIDOS
Quais brinquedos a criança prefere?
E para responder essa pergunta, temos que olhar para outras:
- Quais brinquedos estão disponíveis?
- Como eles estão dispostos?
- Onde eles ficam?
- De que materiais são feitos?
- Ela brinca sempre do mesmo jeito ou inventa formas diferentes?
- Quais são seus brinquedos e brincadeiras prediletos nesse momento da vida?
5. USO DO ESPAÇO FÍSICO
Como ela usa o espaço físico ao redor?
- Ela tem um espaço para brincar? Um só ou vários na casa?
- Como são os espaços para brincadeiras na sua casa?
- Ela respeita os limites de espaço dados pelos pais?
- Ela organiza a brincadeira de forma sistemática, ordenando os brinquedos?
- Ela guarda os brinquedos que usou? Sozinha ou com a ajuda de um adulto?
6. (IN)DEPENDÊNCIA
A criança consegue brincar sozinha ou sempre solicita a mediação/participação de um adulto?
Bem, essa lista de perguntas pode parecer, a primeira vista, extensa!
Mas lembre-se que ela está aí só para despertar o seu olhar. Você pode se dedicar a um item por vez, no seu tempo.
Esse é um material que eu preparei para refinar o seu olhar como educador. Depois, você mesmo vai se soltando e elaborando outras perguntas!
Lembre-se sempre:
Quando as crianças brincam livremente, nos mostram quem elas são e como elas estão.
Nesse momento de instabilidade, de medos e inseguranças causados pela pandemia, é muito bom que a gente observe o brincar da criança, para começarmos a tatear como elas estão de verdade, lá no fundo.
Observando como elas brincam, a gente pode ver como elas estão de fato, para podermos acolhê-las e trazer mais harmonia para a nossa rotina.
OBSERVE:
- por muitos dias
- sempre com abertura no coração
- sem rotular ou julgar
Por fim, uma mensagem para encorajar a sabedoria que já existe em você, como pai ou mãe:
“Cultive as perguntas e dúvidas que surgirem no seu coração, com interesse genuíno. E as respostas virão. Você, como mãe ou pai, saberá encontrar o que é melhor para o seu filho e como ajudá-lo. As repostas estão dentro de você”.
(Ana Flávia Basso)
Que essas reflexões tenham acendido uma luzinha no seu coração!
Abraços fraternos
Essa reflexão é muito importante! As crianças estão sempre dispostas a nos ensinar e nos revelar seus segredos de infância, seus gestos e poéticas. E isso é um ato de bondade para conosco! É tempo de devolver olhares e escutas, tempo de observação e fruição dessa infância que podemos acompanhar com nossos filhos!
É isso, Daiane! É tempo de darmos esse passo enquanto educadores. Bom ter você por aqui, fortalecendo essa corrente. Abraços