Se todos os rios são doces…  

Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?… ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?

(Pablo Neruda)

 

Ah, o outono!

O outono começou oficialmente no dia 20 de março, às 00h50.
Mas para quem observava com regularidade o céu, as árvores, as plantinhas, o canto dos passarinhos, o vento… já tinha percebido as mudanças no ar…
O outono é muitas vezes uma estação mal compreendida: não é apenas o momento do cair das folhas, das árvores ficarem despidas, do murchar na natureza.
Há muita exuberância, como a dos frutos que se oferecem para serem colhidos, para nos saciar e para contribuir com as provisões para todo o inverno.
O outono nos mostra que é hora de invertermos a nossa orientação: da expansão ativa em direção ao mundo (ao exterior), para uma inspiração receptiva em direção a si (ao interior).

Ainda é só o começo desse movimento para dentro, que se intensificará no inverno.

Esse recolhimento outonal, que em 2020 está coincidindo com a necessidade de ficarmos todos em casa, pode “aparecer” no nosso ambiente de várias maneiras.
Pense em como tornar a sua casa mais aconchegante, com pequenas transformações. Algumas ideias:

 

 

– crochetar um tapete que protegerá os pés do frio que virá

– colocar uma manta bonita sobre o sofá, que deixará a sala diferente. Essa manta sairá de cena quando o inverno acabar, anunciando que algo vai mudar

– tricotar algo com uma lã macia, mesmo que seja um cobertor para os bonecos

 

 

 

– tornar a casa mais quentinha e acolhedora com uma luminosidade indireta, velas ou mesmo uma nova cortina num tom que aqueça

– fazer compotas e geleias com as frutas do outono para termos o ” estoque” do inverno

 

 

 

Veja o que você consegue fazer para mostrar à criança que algo maior mudou na natureza e você percebeu. Sem falar, sem explicar e intelectualizar o outono. Isso seria adequado às crianças grandes.

Os pequenos já sentem a respiração diferente da nova estação. A gente só precisa criar unidade entre a natureza de fora (do planeta), com a natureza de dentro (da casa e do meu mundo interior).

Ah, tem uma história para a época do outono, logo abaixo.

Um ótimo outono a todos!

 

A FADA DO OUTONO

 

A vida corria tranquila naquele povoado.

Manuel fazia o pão como todos os dias.

Carolina vendia o peixe como todos os dias.

Alexandre, o carteiro, fazia a entrega das cartas, como todos os dias.

Só algo parecia diferente e era a Casa dos Três Pinheiros. Tratava-se de uma formosa construção do século passado que estava abandonada e até havia quem dizia que ali vivia um fantasma. Pois bem, nesta casa estava se passando algo muito estranho. Pela tarde, na saída da escola, Bruno e Luís voltavam para casa pelo caminho do bosque. Eram as últimas tardes do verão e eles gostavam de escutar os pássaros e ver os bichinhos que ali viviam.

No mesmo instante em que Bruno lamentava o término do verão, Luís que caminhava atento, notou que talvez alguém estivesse na Casa dos Três Pinheiros.
Curiosos para saber quem ali estava ou mesmo se era um fantasma, os meninos foram se aproximando do casarão.

Luís estava com medo mas Bruno achava que era apenas alguém que tinha acabado de se mudar.

– “Venha, vamos ver!” – disse a Luís.

Bruno e Luís se aproximaram de uma janela que estava entreaberta e olharam para o interior da casa. Viram ali uma mulher que cantarolava uma melodia enquanto cozinhava.
– “É o que eu disse. É uma nova vizinha!” – confirmou Bruno.
– “Olá garotos! Entrem, entrem” – disse a mulher.

Os meninos entraram na casa e viram que ela estava toda arrumada, nem parecia que estava tantos anos abandonada: havia almofadas, cortinas e os móveis não tinham nem um cisco de pó.
– “Tudo está tão lindo! Você deve ter tido muito trabalho para deixar tudo isto limpo!” – falou Luís.
– “É verdade… Mas sentem-se e comam uma tortinha. Estas são para vocês” – ela disse.

E os meninos não acreditaram.

– “Para nós? Mas, como? Você não sabia que a gente viria, não é?”, perguntaram.

Sorrindo, Tiana respondeu:

– “Como não ia saber, se eu sei de tudo?”
– “Tudo?” – questionaram os meninos com os olhos arregalados.

E ela revelou então o seu segredo:
– “Eu sou Tiana, a Fada do Outono”.
– “Uma fada! Nós nunca vimos uma!” – exclamaram os garotos, boquiabertos.

Tiana trouxe, em seguida, um prato com muitas tortinhas de todas as cores, que pareciam cochichar.

– “Ah, que bonitas! Podemos comer?” – perguntou Luís.

A fada Tiana consentiu. Mas quando os garotos se aproximaram do prato para comer uma tortinha, escutaram uns murmúrios. E as tortinhas disseram:

– “Comam-me! Eu quero ser comida primeiro! Não, eu quero ser a primeira”!

As tortinhas falavam! Luís logo percebeu que eram tortinhas de fada, tortinhas mágicas!
Bruno, mais desconfiado, queria saber como eram mágicas e o quê faziam.

E a fada Tiana explicou:

– “As tortinhas ensinam a amar o outono. Lembrem-se que eu sou uma fada do outono, eu sacudo as árvores com a minha varinha para que as folhas caiam e vou pintando o bosque de cores douradas com um pincel mágico”.

Bruno e Luís estavam entusiasmados e olhavam tudo a sua volta. Em cima de um armário, viram três potes que pareciam ser de ouro.

– “Que potes tão bonitos! O que você guarda neles?” – perguntou Luís.

Então Tiana pegou os potes com muito cuidado e colocou-os em cima da mesa, dizendo:

– “Neste primeiro, guardo o vento do outono”.

– “Uauuuuu”! – suspiraram os garotos.

– “No segundo, guardo as primeiras chuvas do outono e, no terceiro, guardo os raios do sol de outono”.

Bruno, encantado, falou:

– “Que bonito é o outono! E para quê você os guarda aí?”

Tiana explicou que quando o verão estava terminando, ela levantava as tampas dos três potes e deixava o vento, a chuva e os raios de sol saírem.

Bruno compreendeu e disse:

– “Pois sim, o outono vai ser bonito!”

E a fada Tiana completou:

– “Sim, ele será bonito. Assim como todas as estacões são bonitas. Só é preciso que se pare e dê uma olhada ao redor”.

Bruno e Luís compreenderam que o outono era muito bonito. De uma beleza sem igual.

Correram para casa e, quando o outono chegou, aproveitaram o vento, os raios do sol…e até a chuva outonal.

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