A sexta história da Semana Especial Abelhas vem de Madagascar: é um conto que fala das origens do mundo e, nesse contexto, do papel das abelhas nesses tempos antigos.
É uma história que me encantou desde o primeiro momento em que a conheci e resolvi traduzi-la para poder compartilhar com vocês.
Fonte:
Livro: Contes et légendes de Madagascar
Coleção: Aux origines du monde
Autora: Galina Kabakova
Editora: Flies France, 2012
Tradução: Ana Flávia Basso
Espero que gostem!
A origem do mel e do comércio: a abelha
(Madagascar)
Quando o Céu e a Terra formavam um todo, a Abelha, assim como a mosca e todos os seres animados, vivia com o Criador. Quando Ndriananahary separou o Céu da Terra, ele pediu à Abelha que escolhesse o trabalho que garantiria sua alimentação diária. A Abelha respondeu:
– Só sei tecer placas finas com as quais faço os meus favos, isso basta para a minha atividade e com elas ganho facilmente a vida.
Ndriananahary deixou-lhe esse meio de existência, mas recomendou que o inseto diligente sempre trabalhasse com consciência. A Abelha começou a trabalhar e fez tantas placas finas que, em muito pouco tempo, obteve grandes lucros vendendo esses objetos úteis. Sua atividade prosperou tanto que muitos animais queriam imitá-la. Nenhum, no entanto, conseguiu igualar-se a ela, porque ninguém tinha a sua arte e paciência.
Um dia, a Abelha foi ao Céu perguntar a Ndriananahary onde ela deveria depositar o mel que fabricava.
O Criador lhe respondeu:
– Você não tem talento para tecer placas belas! Faça uma casa pequena com muitos compartimentos; você morará em uns e colocará seus ovos ali, os outros servirão como armazéns para conservar o seu mel.
Com esses conselhos, a Abelha voltou à terra e imediatamente começou a trabalhar. Ela foi rápida em construir uma colmeia no tronco oco de uma árvore velha; ela dividiu o interior em vários andares cheios de infinitas células. Quando tudo terminou, ela voou de flor em flor: depois de sugar o suco de cada uma delas, passou a depositá-lo nos compartimentos vazios destinados a esse fim.
Logo ela acumulou uma grande quantidade de mel, quase todas os alvéolos estavam cheios. Mas essa nova empreitada não a fez negligenciar a tecelagem de placas, à qual ela dedicara todo o seu tempo livre. E ela teve sempre uma vida abundante.
Os homens correram para sua casa, não apenas para comprar as placas finas, mas principalmente para obter o bom e doce mel que ela fazia. Seu negócio tornou-se tão próspero e sua casa tão bem abastecida que a abelha enriqueceu rapidamente e em pouco tempo fez uma enorme fortuna vendendo seus produtos.
Mas sua crescente prosperidade gerou muito ciúmes e inveja, infelizmente! O ciúme e a inveja logo se transformaram em ódio feroz. Em vez de comprar dela, como no passado, o seu mel e suas placas finas, vinham até a Abelha apenas para roubar-lhe, pela força ou astúcia, o produto de seu trabalho meticuloso e de sua ocupação pacienciosa.
A Abelha reclamou com o Criador e pediu ajuda e proteção. Mas Ndriananahary não queria lhe dar a ajuda de seu braço poderoso que, com um gesto, poderia reduzir a pó todos os inimigos da infeliz criatura. Ele respondeu à Abelha:
– Minha imparcialidade me ordena a não intervir em seu favor, embora você pareça estar certa; Eu estou muito longe de você para ver e observar os danos que podem ser causados e ajudá-la sempre que estiver em perigo: você sabe que não devo mais lidar com disputas que possam existir entre os animais. Defenda-se como puder, eu lhe dou o direito.
Desolada por ter obtido apenas essa resposta e por não ser protegida de maneira mais eficaz contra as ousadas tentativas de seus agressores, a Abelha desceu tristemente até a terra e encontrou, oh infortúnio!, toda a sua colmeia invadida e desprovida de mel. Na sua ausência, sua casa havia sido saqueada e seus bens removidos. Diante do desespero da Abelha, Ndriananahary, com pena, disse-lhe:
– Não se preocupe, você poderá em breve reparar seus danos e iniciar seu trabalho novamente, porque você é uma trabalhadora hábil. Para sua defesa, darei a você uma arma afiada que, se não fizer os ladrões fugirem, servirá para fazer picadas quentes e causar dores lancinantes; isso os fará hesitar em vir e tirar o fruto do seu trabalho.
E ele a muniu com uma picada defensiva. No passado, o comércio era desconhecido: foi a Abelha quem primeiro o criou, praticou e ensinou ao mundo habitado. É por isso, conclui o narrador, que o homem retira o mel pela força, apesar dos protestos da abelha, e que ele tem como punição, as picadas do inseto, incapaz de se defender de outra maneira.
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