Imagem: Pixabay

Uma história para a Páscoa, escrita por Ana Flávia Basso.

Quando a Lagarta seguiu o Vento

Num pomar cheio de laranjeiras, vivia uma lagarta.  

Ela era verde como as folhas novinhas da primavera e tinha pintinhas marrom-alaranjadas nas costas, como as cores do outono. Era ainda pequena, mas já carregava um coração curioso e sonhador.

A lagartinha gostava de caminhar devagar, comer folhas fresquinhas com cheiro de laranja, conversar com as formigas e escutar os sussurros do vento. E, de noite, abrigava-se embaixo de uma folha grande para descansar.

Durante o dia ou durante a noite, havia uma coisa que ela sempre fazia: olhar para o céu. De dia, ficava atenta às nuvens que dançavam para lá e para cá, acompanhando o vento. E de noite, contemplava as estrelas, quietinhas, que embalavam o sono de todos os que dormem. Seu olhar sempre parava em uma Estrela que tinha um brilho especial, chamando sua atenção. Todas as noites, assim acontecia. Ela encontrava sua amiga Estrela e sonhava com o dia em que se encontrariam.

– “Como será tocar as nuvens? Como será chegar pertinho das estrelas?”, ela perguntava às borboletas que passavam bailando entre as flores, lá no alto.

As borboletas sorriam com as asas.

– “Um dia, você saberá, querida.”

Mas a pequena lagarta achava aquilo impossível. Ela tinha muitas patinhas e andava bem devagar. Como poderia ela, uma lagarta lenta e pesada, chegar pertinho do céu?

Certa manhã, enquanto descansava sob uma flor roxa, o Vento apareceu. Ele era sábio, gentil e cheirava a folhas molhadas.

— “Está na hora, pequena lagarta. Venha, tenho algo para te mostrar.”

Ela sentiu um friozinho na barriga, mas confiava no Vento. E o seguiu, com o coração palpitando. Ele a levou até uma laranjeira antiga, que tinha um galho bem firme.

– “Aqui começa a sua maior aventura”, sussurrou o Vento.

A lagarta não entendeu nada, mas aceitou o desafio. Sentiu um sono profundo chegando… e, pouco a pouco, foi tecendo ao seu redor uma casinha feita de fios prateados. Seria sua nova morada, o seu casulo. E ali ela dormiu.

Sonhou que era um passarinho e cortava o céu, entre as nuvens.

Sonhou que era pequena como uma estrela, depois grande como o céu inteiro.

E foi então que ouviu o canto da sua amiga Estrela:

“Dorme tranquila, envolta em calor
O mundo te espera com todo amor.
Teu voo já brilha no tempo do céu,
Mesmo que agora pareça um véu.”

No meio do sonho, ela sentiu medo. E se ela nunca mais visse suas patinhas? E se não pudesse comer as deliciosas folhinhas?

Mas a voz da Mãe Terra a acalentou:

– “Confie, minha querida!”

E cantarolou:

“Dorme, lagarta, que o céu vai cuidar,
Logo, logo, tu vais voar.
A Estrela te embala, o Vento também,
Sonha com flores, que tudo vai bem.”

Dias se passaram. O bosque esperava em silêncio.

Até que, numa manhã de Páscoa, quando o sol acordou mais dourado do que nunca… o casulo se mexeu.

Uma fenda delicada se abriu… e de dentro dela uma borboleta saiu! Suas asas eram de arco-íris molhado e seus olhos ainda eram os de lagarta — curiosos, sonhadores, agora brilhando de coragem.

A lagarta-borboleta bateu as asas. Uma. Duas vezes.

E voou.

Subiu alto, muito alto, até tocar a ponta da nuvem mais leve do céu.

E o Vento sorriu.

E de noite, voou mais alto, para ver o céu estrelado.

E a sua Estrela luziu.

Essa história eu criei para a Páscoa de 2025, inspirada pela imagem pascal de uma lagarta que passa pela metamorfose e se transforma em borboleta.

Optei por trazer dois elementos importantes: o Vento, que aqui simboliza o elemento ar das nossas inspirações e intuições. A lagarta segue o Vento, assim como deveríamos seguir as nossas intuições.

E escolhi também a imagem da Estrela, para representar o nosso Eu Superior, o Ser Humano perfeito que temos dentro de nós e quer se revelar ao mundo. O brilho dessa estrela chama a atenção da lagarta, todas as noites. E só quando ela mergulha no sono profundo dentro do casulo, escuta a mensagem da estrela. Escuta o que há de mais profundo dentro de si.

Bom, espero que a história toque o seu coração e chegue a muitas crianças.

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Uma ótima Páscoa e um lindo Outono!

Abraços,

Ana Flávia Basso, do Educar com Histórias

@anaflavia.basso