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Como educadores de crianças, preocupamo-nos com os ambientes onde elas ficam, onde as levamos.

A atenção aos ambientes, o espaço físico material, o entorno da criança já é um velho conhecido. Pensamos bem antes de levar a criança a algum lugar, cuidamos da nossa casa – especialmente do quarto da criança, onde ela passará suas noites e boa parte de seu tempo em casa. Afinal, o nosso quarto é o nosso cantinho de intimidade e proteção.

Pensamos em cores, texturas, formas e as “informações” que o quarto oferece, ponderando como é a mobília e se há harmonia ou excesso de estímulos.

Mas, nos esquecemos de uma aspecto importante do ambiente da criança: a fala do adulto.

 

Sim, a fala do adulto faz parte do ambiente da criança!

 

Faz parte de seu entorno, daquilo que a circunda.

 

A fala do educador pode:

  • trazer harmonia ou excessos
  • acalmar ou agitar
  • invadir ou envolver
  • reprimir ou conduzir a criança amorosamente.

 

Em tempos de coronavírus, podemos e devemos atentar para a nossa fala. A proximidade que o confinamento em casa produz é uma ótima oportunidade pra gente se observar. E observar, especificamente, a nossa fala.

Seguem algumas perguntas que podem te ajudar:

  • o quê falamos na frente das crianças?
  • como falamos?
  • falamos baixo ou alto?
  • minha fala é bem articulada e bonita? Ou entrecortada e seca?
  • na minha casa um fala por cima do outro ou quando um fala, os outros se escutam?
  • eu acabo descontando no meu filho as minhas frustrações através de uma fala autoritária e nervosa? Ou sou permissivo demais e não me expresso com clareza e com limites?
  • eu consigo verbalizar para o meu filho que o amo, expressando toda a magnitude dos meus sentimentos? Ou minha fala é desconectada do que eu sinto, soando muito racional?
  • será que as crianças precisam saber de todas as informações sobre o vírus?
  • como preservar o mundo imaginativo da criança e ensinar hábitos de proteção numa linguagem adequada?

 

Essas perguntas são sugestões para você observar como tem falado diante da sua criança. Claro que a gente logo identifica um monte de coisas que quer mudar. Ótimo! Mas vá com calma, um passo por dia. Tome tempo para observar como a sua fala chega até seu filho, como ele a sente. Coloque-se no lugar dele, te ouvindo falar.

 

Fala é som, vibração. Ela chega até nós e entra – não temos como evitar.

Quando eu não quero comer, fecho a boca.

Quando não quero ver, fecho os olhos.

Com os sons e cheiros, eles entram, invadem.

 

Considerando tudo o que foi dito, vamos para as dicas práticas!

 

1.Comece falando mais baixo do que você fala

 

A audição da criança é muito sensível. E quanto menor a criança, mais baixo devemos falar.

 

2. Construa frases completas

 

Ao invés de dizer “Cê qué batata?“, opte por “Fulano, você aceita um pouco de batata?”

Assim, você usa uma frase bem articulada, completa, honrando a nossa língua.

Com o tempo, você vai se acostumando a falar assim, sem deixar as frases duras e sérias. Sem endurecer!

Lembre-se de que a criança pequena está aprendendo a falar e ela precisa de bons modelos da língua portuguesa.

 

3. Seja verdadeiro ao falar

A nossa voz é como uma impressão digital, ela é única. Ela não engana e revela como nós estamos e como nós somos.

Dessa forma, seja coerente com os seus sentimentos. Não tente fingir através da fala.

Você não precisa estar alegre todos os dias e tudo bem!

Mas não minta para a criança, não finja.  Busque a verdade na voz.

Quando eu não estiver bem, eu não preciso forçar. A criança sabe a verdade.

Ah, e não precisamos explicar para a criança porque estamos tristes ou porque aquele não é um bom dia.

Simplesmente podemos dizer: “Hoje, a mamãe está pensativa” ou ” Hoje, a mamãe está como um coelhinho na toca“.

 

4. Use imagens na sua fala

 

Prefira falar através de imagens com as crianças, evitando as explicações intelectualizadas dos adultos.

Os exemplos do item anterior são ótimos pra gente entender como usar as imagens.

As imagens envolvem a criança com gentileza.

Outro exemplo que pode te ajudar: ao invés de dizer “Vamos guardar os blocos de madeira no cesto dos blocos?“, posso falar “Vamos colocar esses nenês para dormirem na sua casinha?“.

E aí, conforme vocês forem guardando, você mostra o nenê, o filhinho mais velho, a mamãe e o papai, graduando o tamanho dos blocos.

 

 

Essa foram  algumas dicas. Comece com elas. E lembre-se:

A gente não é perfeito. Tem dias mais fáceis, outros mais difíceis.

 

Seu filho não quer pais perfeitos. Ele quer pais que tentam melhorar a cada dia.

 

Nesse período de quarentena, podemos usar a nossa fala para acolher, amenizar medos, envolver, e harmonizar a nossa casa e a nossa família.

E não se esqueça de contar uma história bem bonita, usando a voz com essa consciência.

 

 

 

4 thoughts on “Como você tem falado com a sua criança?

    1. Que bom que gostou das dicas, Kayoma! Espero que as coloque em prática. Abraços

  1. Bom dia Flávia,

    Por favor, eu gostaria de entrar em contato com você para conversar sobre um evento.

    Obrigada

    Ana

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