Fonte: foto de Klas Tauberman no Pexel

 

 

Nos últimos dias, todos estamos nos adaptando a um novo ritmo de vida, em casa, de ‘quarentena’, em ‘isolamento’… Outros ainda trabalhando fora de casa, em locais que não puderam parar.

Acredito que todos estejamos conectados pelo celular, recebendo mensagens e vendo postagens que ora informam, oram acolhem nossos receios, mas também confundem, trazem medo e insegurança e nos sobrecarregam.

O excesso de mensagens e postagens dificulta o nosso pausar. Pode gerar indigestão. Que saibamos dosar o que lemos, as informações que procuramos e peneirar as que chegam até nós.

Um exercício que recomendo enfaticamente é usar o celular em apenas alguns momentos do dia. Redescobrir como era estar no presente, no aqui e agora, lidando com o tempo de outra maneira, com o ócio e criando coisas interessantes, como fazíamos antes desses meios de comunicação.

Viver como se o celular não existisse…   E aproveitar o tempo para:

  • brincar com as crianças
  • arrumar uma gaveta bagunçada ou que precisa de um novo formato de organização
  • selecionar coisas para doação (de todos os cômodos da casa)
  • limpar cantinhos esquecidos pela correria do dia-a-dia
  • tornar a casa mais aconchegante
  • ler aquele livro que está na fila de leitura
  • fazer uma máscara facial e cuidar do corpo, cabelo, pele
  • fazer alongamentos ou Antiginástica
  • meditar e silenciar
  • cantar
  •  acender velas à noite, para que a chama transforme a luminosidade da casa
  • pregar aquele botão numa roupa esquecida e costumizar outras que poderiam ganhar um novo ar
  • cozinhar uma receita de família ou testar uma receita nova, diferente
  • cuidar das plantas da casa, fazer mudas ou começar a cultivar alguma
  • começar um trabalho manual (ou finalizar algum interrompido)
  • contar histórias! VOCÊ contar a história! E não terceirizar essa tarefa.

 

Sua criança sempre se lembrará desse momento de afeto, de intimidade, de cuidado. Olho no olho, corpo com corpo, calor humano. As memórias do futuro trarão imagens, cheiros, cores, texturas, temperatura desse momento único de compartilhar uma história de boca. Ainda mais nesse momento em que estamos todos fragilizados, com receios, incertezas. Precisamos encontrar a nossa força interior em prol das crianças, para criar um ambiente saudável para elas, nesse momento, diante desses desafios atuais.

E foi assim, lendo e procurando histórias para esse momento, que a vida me mandou uma, bem especial.

Ela veio através do Cado, o João Ricardo, o Jardineiro da Casa Vivá – Iniciativa Waldorf, lá de Foz do Iguaçu – PR.

Preparando conteúdos para enviar às famílias de seus alunos e da sua escola, ele encontrou essa história em inglês e resolveu traduzi-la. Sua doação se estendeu para nós, leitores de língua portuguesa.

Agradeço ao Cado pela dedicação de seu tempo na tradução e por autorizar o compartilhamento aqui, com vocês. Agradeço à Nina, companheira do Cado, pois sei que tem participação dela nesse processo, em algum detalhe. E agradeço à autora, Elizabeth Emmett, que recebeu a inspiração da história e a colocou no papel.

Se quiserem conhecer a iniciativa:

Instagram: @casavivainiciativawaldorf

Facebook: Casa Vivá – Iniciativa Waldorf

Espero que você goste, que a história toque o seu coração e que você se anime a contá-la às crianças que estiverem por perto. Ah, essa história pode ser contada para crianças de 1o setênio. Boa leitura!

 

A Grande Pausa – Um Conto para Crianças
(Elizabeth Emmett)

 

Era uma vez, em uma terra distante, mas não tão distante assim, há algum tempo, mas não tanto tempo assim, havia um pequeno e adorável reino de pessoas muito trabalhadoras. Neste reino, havia quatro aldeias, cada uma governada por uma Rainha sábia e gentil. Havia a aldeia Norte, a aldeia Sul, a aldeia Leste e a aldeia Oeste.

A aldeia Norte era uma terra cheia de morros e montanhas, onde as pessoas trabalhavam duro forjando ferramentas para o reino e cortando madeira para casas. Na aldeia Leste, ficava o mar onde os pescadores passavam seus dias quentes e os comerciantes trabalhavam incansavelmente para fabricar e vender seus artesanatos e mercadorias. Na aldeia Sul, os agricultores cuidavam de seus campos e animais, trabalhando incansavelmente para alimentar o reino. Na aldeia Oeste, havia uma grande cidade cheia de arranha-céus, onde as pessoas trabalhavam em seus computadores e realizavam muitas reuniões para administrar os negócios do reino. Enquanto os adultos trabalhavam todos os dias, as crianças do reino se reuniam para brincar na floresta mágica ao redor do poço, no centro do reino.

As crianças cantavam e dançavam juntas, construíam casas para os pequenos seres da floresta e faziam muitas rodas ao redor do antigo poço. No final de seus dias cansativos, o trabalho das crianças era levar um balde de água de volta para cada uma de suas casas no reino. Todos no reino sabiam que a água do poço era a melhor para lavar, cozinhar e se nutrir, pois ela possuía uma qualidade mágica que diziam ter vindo dos pequenos seres da floresta mágica.

Um dia, quando os adultos estavam voltando para casa depois de um longo dia de trabalho, e as crianças estavam se despedindo de seus amigos e enchendo seus baldes para levar para casa, algo muito estranho aconteceu. Uma criança que estava cansada de tanto brincar decidiu tomar um grande gole da água do balde. Seus amigos notaram que depois que ela bebeu a água, seu corpo ficou parado como uma estátua. Era como se ela tivesse virado pedra.

As crianças correram rapidamente para casa para contar às suas famílias. Uma criança foi para sua casa no Norte e foi recebida por seus pais, que estavam voltando do trabalho nas minas. Seus rostos e mãos estavam cobertos de fuligem e, enquanto a criança tentava explicar o que vira no poço, seus pais começaram a lavar a fuligem com a água do balde. Assim que molharam o rosto com a água, eles também ficaram imóveis como pedra, com a água pingando de seus narizes.

No Leste, uma criança chegou em casa e encontrou seus pais, que eram alfaiates. Eles tinham trazido sua costura para a mesa do jantar e disseram que simplesmente não podiam parar para comer. Eles teriam que comer enquanto costuravam para conseguir cumprir sua meta. A criança preparou um mingau de aveia com a
água do poço e, enquanto cada um deles comia uma colherada, sem tirar os olhos do trabalho, eles também ficaram imóveis como pedras.

Uma criança levou sua água para casa, a uma fazenda no Sul. Os fazendeiros ficaram muito animados por terem um balde de água fresca para regar suas plantações, mas assim que a água se espalhou sobre o milharal, cada caule ficou duro como pedra e nenhuma brisa poderia dobrá-los ou mexê-los. A criança que foi para casa na cidade grande levou o balde para o apartamento onde sua família trabalhava nas telas dos computadores. Eles nem notaram o garoto tropeçar no tapete e derramar a água no chão, mas os respingos da água espalharam pingos e gotas que, voando, caíram sobre os computadores, telefones e móveis. De repente, eles também ficaram petrificados. As pessoas no reino não sabiam o quê fazer; então, é claro, pediram ajuda às Rainhas.

As Rainhas decidiram juntas fazer um decreto real: todas as famílias devem ficar em casa juntas. Ninguém estava autorizado a trabalhar e as crianças não poderiam voltar para o poço na floresta. “Quanto tempo nós devemos ficar em casa?” perguntaram às famílias. “Até nós lhe dizermos que é seguro”, disseram as Rainhas. Então, todas as pessoas no reino foram para suas casas, se aconchegaram juntas lá dentro e esperaram. Os primeiros dias em casa foram divertidos mas, depois de muitos dias, os adultos começaram a se preocupar com todo o trabalho que precisava ser feito e as crianças começaram a ficar inquietas e sentir falta dos amigos! Dia após dia, eles esperavam para ouvir o que diriam suas Rainhas.

Enquanto isso, as Rainhas haviam se reunido ao redor do Poço. Elas trabalharam juntas para drenar a água do poço, o que levou muitos dias, pois este era muito profundo e estavam trabalhando com cuidado para não respingar uma única gota sobre elas mesmas. Depois de muitos dias esvaziando balde após balde, elas finalmente chegaram ao fundo do poço, embora não pudessem vê-lo. Então enviaram um pássaro para inspecionar o poço e ver se algo parecia suspeito. De fato, o pássaro encontrou uma pedra cinza escuro e coberta de musgo, bem no fundo do poço. Quando o pássaro contou isso para as Rainhas, elas imediatamente souberam a quem a pedra pertencia: “A Velha do Musgo!” elas disseram juntas.

Quando disseram o nome dela, uma mulherzinha bem pequena e coberta de musgo apareceu dançando ao redor de seus pés, a mais sábia dos pequenos seres, a Velha do Musgo. “Esta pedra é sua?” perguntaram as Rainhas. “Sabemos que você não faria mal às pessoas do nosso reino, mas parece que esta pedra envenenou nossa água.” “Minhas queridas”, disse a Velha do Musgo, “seu povo tirou um bom e longo descanso? Este não é nenhum veneno, mas simplesmente uma pausa para que seu povo se lembre o que é mais importante. Você verá como, depois desse bom descanso, eles voltarão com mais alegria e entusiasmo!” Ela pegou sua pedra de musgo e desapareceu rapidamente entre as folhas no chão da floresta.

Assim como ela havia prometido, de fato, depois de um longo tempo em casa juntos, o povo do reino encontrou uma alegria renovada em passar tempo com suas famílias. Especialmente aqueles que estavam tão cansados do trabalho que estavam tão imóveis quanto pedras, pois precisavam tanto dormir! Quando acordaram da quietude, estavam revigorados de energia. As Rainhas convidaram todos a se reunirem na floresta mágica ao redor do poço mais uma vez e anunciaram que todos poderiam voltar a ficar juntos novamente. As crianças ficaram muito felizes ao encontrar seus amigos, de quem tanto tinham sentido falta, e as pessoas decidiram que poderiam deixar seu trabalho no trabalho a partir de agora e aproveitar as pequenas pausas todos os dias. E todos viveram felizes para sempre.

Tradução: Ricardo Faiock

Original: http://bit.do/agrandepausa

10 thoughts on “História para tempos de isolamento e medos – A Grande Pausa

  1. Historia incrível, arebatou me do meu recluso (que embora a causa nao seja boa , mas esta semdo proveitosa, para termos tempo de nos debruçar mos em histórias como essa) , para uma floresta encantada , pude confirmar o verdadeiro sentido de viver em comum unidade, principalmente com o nosso próximo , o qual na maioria das vezes esta muiiiito distante.

    1. Olá, Edilene! Fico feliz que tenha gostado. Em breve, postarei mais histórias bonitas. Hoje mesmo tem uma, da série: Histórias de coração para coração. Espero que elas toquem o seu coração também. Abraços

  2. Bom dia Ana Flávia, muito linda a história. Maravilhosa para fazer as crianças e familiares verem o lado bom de estar juntos. Contei em áudio e enviei para os meus alunos, já que estamos sem aula nessa quarentena.
    Paz e bem!
    Gratidão

    1. Olá, Renata! Que bom que a história chegou aos seus alunos! Bjo

  3. Bom dia Ana Flávia. Amei a história, gostaria de saber se posso contar essa história, adaptando-a para crianças de Ceis.

  4. Olá Ana Flávia amo suas historias, leio todas e as conto para meus alunos com muito carinho, elas fazem muito sucesso, aquecem nossos corações e enchem nossa vida de conhecimento e cultura… Obrigada por compartilhar sua habilidade
    Grande abraço

    1. Olá, Ana Carolina! Sua mensagem aqueceu o meu coração – adoro saber quando estão contando as histórias para as crianças. Sinto-me pertinho delas, que são a grande motivação do meu trabalho. Obrigada por compartilhar comigo. Beijos

  5. Posso fazer o reconto dessa história,citando a autora e o seu blog?

    1. Olá, Danielle! Pode, sim. É sempre bom mencionar a autoria, a fonte. A autora agradecerá. Bjo

Deixe um comentário para Ana Flávia Basso Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *