Quando a gente começa a usar Histórias com gestos com as crianças, logo percebe como elas ADORAM esse tipo de narração!

De início, escolhemos uma história bacana, bonitinha e, depois, vamos acumulando um repertório criado por outras pessoas. Até que um dia, vem aquele comichão pra criar gestos para um verso, uma cantiga ou uma história que toca o nosso coração.

 

Mas, por onde começar?

          Que tipo de texto combina com o uso de gestos?

                   Quais gestos escolher?

 

Essa não é uma tarefa tão simples assim… Muitas vezes, as pessoas acabam escolhendo sempre os mesmos gestos caricaturais que estão nas mídias, sem compreender como criar gestos bonitos e apropriados para as crianças.

 

Foi pensando nos educadores que precisam de dicas para a criação de histórias com gestos, que elaborei um roteiro de ajuda: os 11 cuidados para criar histórias com gestos.

 

Vamos começar!

 

 

1) Escolha gestos simples, evitando caricaturas

 

Os nossos gestos têm que  ser simples para poderem ser imitados pelas crianças. Mas não podem ser simplórios.

Se fizermos um gesto muito descritivo, corremos o risco de parecer coreografia da Xuxa (com o perdão do exemplo).

Se eu faço um gesto para representar um índio, batendo a mão na boca e emitindo um som, eu reduzo o conceito de índio a uma caricatura. E a criança não internalizará um conceito verdadeiro! Ela compreenderá índio de uma forma equivocada.

É um desserviço para a educação e a vida social, pois a criança formará uma imagem errônea sobre o que é um índio.

 

 

2) Opte por gestos ligados ao momento real ou ao sentimento real

 

Essa dica tem muita ligação com a anterior. Vamos usar ainda o exemplo do índio, dado no item 1.

Como representar um índio da forma mais verdadeira possível?

Para responder,  precisamos nos conectar ao que sabemos e percebemos sobre “índio”, sem preconceitos. Independente da etnia, sabemos que o índio tem uma relação sagrada com a terra e a natureza. Isso já basta!

Em muitas danças indígenas, vemos que eles inclinam um pouco o tronco para a frente, como se o coração deles pulsasse com o coração da Mãe Terra. Esse já é o primórdio de um gesto! E os braços podem ir para trás.

Pronto!

Criamos um gesto: inclinar o tronco para frente, colocar os braços para trás e sentir a reverência em relação à terra. Temos, assim, um gesto mais próximo do verdadeiro, da essência que queremos transmitir para a criança.

 

 

3) Variar sempre entre centro e periferia

 

Lembre-se de alternar gestos que explorem centro e periferia:

 

Centro = gestos menores, mais próximos do meu corpo (DENTRO)

Periferia = gestos maiores, amplos, que me aproximam do mundo (FORA)

 

Exemplos:

Um gesto de um ninho é menor, mais próximo do meu corpo e corresponderia ao que chamo de CENTRO.

O gesto do sol ou de uma árvore é maior, me conectando ao mundo. Portanto, corresponderia ao que chamo de PERIFERIA.

 

Com essa alternância, trazemos uma respiração para o gestual, que cria uma estética bela para os movimentos e, também, um efeito harmonizador para as crianças.

 

 

4) Usar os mesmos gestos em diferentes histórias

 

 

Existem palavras que sempre se repetem em textos infantis: passarinho, borboleta, sol,…

Assim, podemos escolher um gesto para cada uma dessas palavras. Sempre que eu disser “passarinho”, eu farei determinado gesto e as crianças saberão o que fazer!

 

Mantendo um padrão para algumas palavras, eu ajudo a criança a relacionar o conceito ao gesto.

 

 

Quando, no meio da movimentação, elas descobrem um gesto que conhecem, percebemos que elas expressam familiaridade em relação ao gesto. É sempre saudável inserir gestos conhecidos e trazer gestos desconhecidos, para serem um desafio à criança.

Saber dosar isso é uma arte! (ver o item 10)

 

 

5) Não colocar muitos gestos numa frase

 

Se eu coloco poucos gestos em uma frase, dou tempo para a criança me imitar e aprender a movimentação que quero ensinar.

Se, enquanto a criança está imitando um gesto eu já fui para o próximo, posso causar uma agitação e aceleração na criança. Outra consequência possível, é o desinteresse dela pelo que estou fazendo, pois não consegue me acompanhar.

Portanto, é fundamental cuidar da quantidade de gestos que eu coloco em uma frase.

 

 

6) Fazer os gestos com clareza

 

É preciso cuidar do tempo de execução de cada gesto e fazê-lo com clareza do início ao fim.

É importante que o educador perceba, na própria consciência corporal, onde cada gesto começa e onde termina.

Isso não quer dizer endurecer o gesto, apenas que é preciso saber como quer fazer cada gesto, para poder repeti-lo com precisão.

Dessa forma, a criança saberá como imitar e, com as repetições, poderá curtir o gesto, sem se preocupar com o imitar, pois já sabe como o professora fará. A clareza do educador possibilita que a criança usufrua o gesto!

Eu tenho que ter consciência de que faço gestos para ser imitado por crianças! Isso requer precisão, um tempo diferenciado e muita alegria com o que faço.

 

 

7) Cuidar da passagem de um gesto para outro

 

Se antes eu cuidei de cada gesto, agora preciso cuidar do ENTRE: o que eu faço com o meu corpo entre um gesto e o próximo?

O que quero dizer com isso?

Que a atenção agora deve recair sobre a passagem de um gesto para o outro, sobre o que o meu corpo faz nesses momentos de ligação entre os gestos.

Com esse cuidado, o TODO fica mais harmonioso e “limpo” para quem imita.

 

 

8) Atentar para o ritmo do texto

 

Se tenho em mãos um texto com rimas ou uma cantiga com uma melodia bonita, posso aproveitar o ritmo do texto para encaixar os gestos que criar.

 

 

9) Priorizar cantigas, versos e histórias curtas

 

 

Textos curtos são mais apropriados para ganharem gestos. Se usamos gestos em textos longos e complexos, podemos sobrecarregar as crianças.

Fazer gestos por muito tempo cansa algumas crianças, pois exigimos delas muita concentração.

Algo curto e bem feito, terá um impacto positivo muito maior nas crianças, chamando a atenção e trazendo entusiasmo, a ponto delas dizerem: “De novo!”

 

 

 

10) Cuidar do grau de dificuldade dos gestos, considerando a faixa etária das crianças

 

Quando a gente trabalha com crianças, um dos requisitos é ter uma noção do desenvolvimento motor infantil.

Sabemos:

  1. quais gestos uma criança de 3 anos consegue fazer;
  2. quais gestos ela pode fazer se treinar um pouco, sem forçarmos o seu desenvolvimento e
  3. quais gestos não dará conta de fazer, por uma questão das etapas de desenvolvimento.

 

O mesmo acontece para cada idade: sabemos do que dão conta e o que ainda não darão conta.

Assim, quando vamos criar gestos, precisamos levar esse conhecimento em consideração:

  • a maioria dos gestos escolhidos para um texto precisa fácil para criança, ela tem que conseguir fazê-los (Tipo 1, descrito acima)
  • 1 ou 2 gestos precisam ser desafiadores, um desafio adequado à faixa etária. O que isso quer dizer? Que se a criança treinar um pouco e com algumas repetições, ela conseguirá executar o gesto. E sentirá que se superou, que conseguiu! (Tipo 2)

 

11) Treinar antes de fazer os gestos diante das crianças

 

Treinar mostra o nosso cuidado com as crianças. Quando treino antes, sinto-me mais tranquilo diante das crianças, para fazer os gestos de forma bela, segura, sempre do mesmo jeito, para a criança conseguir me imitar.

 

 

 

Bem, esses são os principais cuidados que você precisa tomar na hora de criar gestos para uma cantiga, verso ou história.

Alguns cuidados se enquadram melhor na criação de gestos para cantigas, que têm melodia (ligados ao canto). Outros, na criação de gestos para versos e histórias (ligados à fala).

Mas todos os 11 cuidados nos fazem mergulhar no universo dos gestos e olhar para o desenvolvimento motor das crianças. Ambos assuntos que me encantam!

Espero que essas dicas tenham te ajudado a compreender melhor o que é essencial na criação de gestos. Se ainda ficou alguma dúvida, deixe seu comentário abaixo que te respondo.

Deixo também um vídeo em que abordo o assunto e trago alguns exemplos de gestos:

 

 

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