Imagem: Leah Marie Dorion

 

Nós, que gostamos de histórias e reconhecemos os seus benefícios, sabemos também que elas podem ser um presente harmonizador para os ouvintes. E qual data comemorativa está pertinho da gente?

O Dia das Mães se aproxima e recebi diferentes pedidos de histórias para essa ocasião: para evento em escola, história para mães em situação de vulnerabilidade, história para contar aos filhos…

Quando recebo pedidos assim, aceito o desafio de buscar algo especial, fugindo das histórias piegas que, em geral, são contadas para celebrar apenas uma data comemorativa esvaziada de um simbolismo profundo.

 

 

Fiquei pensando no que significa ser mãe, resgatando a minha experiência de mãe de uma jovem com 18 anos e relembrando as qualidades de diferentes mães que conheci ao longo da vida.

Que experiência rica e intensa tornar-se mãe a cada dia de vida do filho!

É uma experiência que se renova a cada instante!

 

E, em meio a essas reflexões, elegi uma característica do “ser mãe” para me ajudar a encontrar uma história especial: oferecer proteção, apoio, invólucro – envolver.

 

 

 

“Envolver” pode se manifestar de diferentes formas:

  • na barriga de uma gestante que cresce e revela a vida em movimento,
  • nos braços acolhedores que pegam o bebê do berço,
  • no beijo que abarca todo o ser do filho,
  • na mão que acaricia os cabelos quando o filho menos espera,
  • no ninar cantando um acalanto,
  • na bronca firme que dá limite,
  • no olho-no-olho que traz a conexão com a essência do filho,
  • nas mãos dadas ao caminhar,
  • na voz doce que cantarola para trazer alegria,
  • no colo que ampara quando o filho chora e se sente perdido,
  • no contar uma história especial, para tentar harmonizar, reequilibrar, divertir, ensinar ou embalar.

 

 

 

 

São tantas as formas de ENVOLVER que, muitas vezes, na correria, notamos que o dia passou e perdemos várias oportunidades de envolver nosso filho com gestos simples, com as singelezas do dia-a-dia.

 

 

 

 

O ritmo de vida que temos hoje, com tantas informações e compromissos, tem feito com que os pais e as crianças sintam-se sobrecarregados, agitados e ansiosos, sobrevivendo em um mundo imprevisível. A falta de tranquilidade e de um ritmo de vida saudável têm ameaçado a confiança das crianças no mundo e nos seres humanos.

 

Como as histórias podem ajudar?

 

Podemos ajudar as crianças contando-lhes histórias que intencionalmente resgatem a sensação de que “o mundo pode ser bom”. Metaforicamente, é como se essas histórias carregassem as crianças nos “braços de uma mãe”, ou mesmo “no colo protetor da Mãe Terra”.

As histórias que trazem esse tipo de imagem podem ser contadas não só para celebrarmos o Dia das Mães ou quando alguém se torna mãe, mas em casos mais graves, quando identificamos a necessidade de “proteção”: um acidente, uma mudança súbita de vida, um ato violento, uma experiência traumática.

Além disso, atualmente, todas as crianças precisam de histórias que façam com que se sintam mais seguras e protegidas, que as cerquem com imagens que vão formando camadas e criando uma suave vestimenta de proteção. É como se essas histórias formassem uma “pele” extra em cada criança-ouvinte, uma pele protetora para encararem o mundo de hoje.

Já contamos histórias que atuam dessa forma o tempo todo, mas podemos fazer isso também de forma mais consciente.

Assim, selecionei duas histórias que exemplificam a atmosfera de envolvimento em uma narrativa e que também podem ser usadas no Dia das Mães – elas trarão conforto, acolhimento, calor ao coração, proteção, abrigo, aconchego…

Na história a seguir, indicada para crianças pequenas, dou um exemplo que nos conduz a um ninho:

 

“A Mamãe Passarinha está fazendo um ninho. Ela cuidadosamente o tece com galhos e musgos, gramas e folhas. Ela usa toda a sua sabedoria para criar um lar para seus passarinhos, um abrigo que resista ao vento e às chuvas. O ninho está sendo construído em um ramo robusto no alto de uma árvore, escondido com segurança pelas folhas. Se ela tiver sorte, encontrará um punhado de paina ou lã de carneiro para deixar o ninho mais macio e quentinho.

Então, a Mamãe Passarinha senta-se confortavelmente no ninho. E o calor de suas plumas despenteadas junto com suas asas, vai aquecendo os ovinhos e, depois de um tempo, aquecerá os pequeninos pássaros, como um cobertor.

A Mamãe Passarinha sempre canta doces melodias para embalar seus filhotinhos. E os raios quentes do pôr-do-sol dourado e o farfalhar suave da brisa através das folhas dizem: ‘shhhhh, shhhhh, hora de dormir, meus pequeninos’.

Quando todos adormecem, a mamãe olha para o céu estrelado, iluminado pela luz prateada da lua e dorme também, para descansar com seus passarinhos, no aconchego de seu ninho.

E no dia seguinte, quando o sol raiar, todos estarão prontos, para um novo dia começar”.

 

(Ao final da história, você pode cantar uma música sobre passarinhos ou mesmo tocar um instrumento que amplie a atmosfera de vôo dos pássaros).

 

Ao contar esse tipo de narrativa que ressalta a atmosfera de envolvimento, podemos observar as reações das crianças. Muitas vezes, notamos que a respiração das crianças vai se tornando mais ritmada e profunda. Acalmam-se.

Podemos criar histórias que envolvam a partir do nosso repertório contemporâneo ou mesmo nos lembrar de contos tradicionais que carregam essa qualidade, contando-as com consciência, para que atuem terapeuticamente.

Quando vemos a fragilidade e a vulnerabilidade nas crianças, ou quando o endurecimento de suas vidas interiores surge à medida em que o ritmo acelerado e a intelectualidade do mundo adulto avançam, podemos procurar por histórias que incorporem “abrigo”: narrativas que mencionem um lar robusto e seguro.

Histórias com imagens (não quero dizer ilustrações e, sim, imagens que as crianças formarão internamente!) que tragam casas e abrigos seguros e fortes atuam de forma a transmitir proteção e acolhimento. Envolvem!

Adicionar intencionalmente esse tipo de história ao nosso repertório de narrativas poderá contribuir positivamente para o desenvolvimento saudável das crianças.

E, assim, a gente educa com histórias!

 

Com a história abaixo, trago outra opção para o Dia das Mães e para situações em que uma história que envolva seja necessária.

Nessa narrativa, uma pinha velha (imagine a pinha de um pinheiro e não a fruta-do-conde) descobre um novo propósito de vida – servir como abrigo para uma família de joaninhas. A história traz como imagens: musgo suave, noite tranquila, luz da lua e uma renovada Vovó Pinha que encontrou a felicidade.

 

O Hotel Cone de Pinha da Colina das Sequoias (Suzanne Down)

 

Algumas libélulas ziguezagueavam e zuniam entre os raios de sol salpicados ao longo da floresta de altas sequoias. “Bom dia, luz do dia!” Elas passaram pelo aglomerado de flores glória-da-manhã que cresciam na grama. Mas tudo estava quieto e silencioso à sombra das sequoias, onde um menino forte procurava pinhas para vender. Quando ele encontrou uma perfeita, ele a colocou em sua cesta grande e continuou procurando por mais.

“Pinhas para mim,

Pinhas para você,

Vou vendê-las no mercado,

Para a moça e o rapaz

E também para você”.

 

Ele pegou uma delas e, ao colocá-la na cesta, percebeu que estava seca e envelhecida. Ele jogou-a colina abaixo, dizendo: “Você está velha e desgastada, Vovó Pinha. Ninguém a compraria no mercado!” A solitária pinha rolou e rolou morro abaixo entre agulhas e galhos de pinheiro até ser parada por um tronco coberto de musgo que jazia ali há cem anos. BUM! A pinha pousou de cabeça para baixo!

O som da pinha pousando contra o tronco acordou vinte e sete bebês joaninha e sua mãe que dormiam em seu ninho macio, aconchegante, feito de musgo, no topo do tronco. Elas se arrastaram até a borda do tronco para dar uma olhada no que estava acontecendo.

A Mamãe Joaninha viu a velha Vovó Pinha e ela estava chorando.

“Eu sou velha e feia e ninguém gosta de mim”, ela soluçava.

A Mamãe Joaninha olhou atentamente para a Vovó Pinha e viu apenas quartos profundos e fortes com um teto sobre cada um. “Isso seria uma casa boa e segura para mim e todos os meus bebês. O musgo é bom, mas não há telhado para nos manter secos. Podemos nos mudar para seus quartos?” – perguntou ela à Vovó Pinha.

A Vovó Pinha parou de chorar e olhou para cima. “Você moraria em minhas salas de pinho? Eu posso ser útil para você?” ela disse, surpresa e muito satisfeita.

“Oh, sim”, disse a Mamãe Joaninha. E de uma só vez, cada uma das vinte e sete bebês e a Mamãe reuniram pedaços macios de musgo e voaram para os aposentos na Vovó Pinha. Era muito bom mesmo!

A Vovó Pinha estava de pé, mesmo que estivesse de cabeça para baixo! Ela se orgulhava de ser útil nesse tronco de musgo. Ela podia sentir as delicadas cócegas das vinte e sete joaninhas se instalando em sua nova casa.

A Vovó Pinha deu um suspiro feliz quando a noite suave caiu sobre a floresta. Quando a lua brilhou através das árvores, suas novas inquilinas estavam dormindo sãs e salvas em sua pinha-hotel. Ela nem se importava que estivesse de cabeça para baixo. Ela ficou firme e forte e escutou a doce paz das joaninhas sob seus cuidados.

 

Espero que tenha gostado das dicas de hoje e das duas narrativas envolventes!

Um forte abraço e um feliz Dia das Mães!

 

8 thoughts on “Dia das Mães – que história contar?

    1. Olá, Maria Cecília!
      Que bom que gostou! Beijos de luz pra você também.

    1. Olá, Silvia!
      Bom vê-la por aqui, curtindo as histórias que compartilho. Bjos

  1. Ola!! Tudo bem? Você sabe fazer mais bichinhos de tricô? Além do coelhinho? Não sei onde encontrar,, obrigada!

    1. Olá, Tatiana!
      Não conheço mais receitas para fazer animais em tricô… O que sei de tricô é bem básico.
      Caso encontre algo, te aviso. Bjo

    1. Quem sabe você conta a história que tocou o seu coração no próximo dia das mães? A data já está chegando… Bjo

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