Você sabia que dia 22 de outubro é o Dia internacional de Atenção à Gagueira?

Eu não sabia e conheci mais sobre o universo da gagueira ao trocar mensagens com uma seguidora do Educar com Histórias, a Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga e Diretora Educacional do IBF – Instituto Brasileiro de Fluência.

O IBF é uma ONG que ajuda crianças, adolescentes e adultos que sofrem com esse problema, além de suas famílias, educadores e outros profissionais das áreas afins. No site do IBF (AQUI) há muitos materiais de apoio, informações, dicas e, inclusive, uma cartilha que orienta educadores.

A Ignês me pediu uma história para esse dia tão especial. E eu escrevi uma, pensando nas crianças que lidam com esse desafio. Depois eu percebi que a história pode ajudar crianças com outras dificuldades e até casos de inclusão.

Espero que você goste da história e tenha a oportunidade de contá-la!

 

O Conselho das Estrelas 

 

Lá do seu ninho, Passarinho olhou para o céu cheio de estrelas.

As estrelas tinham um brilho diferente naquela noite. Parecia que falavam uma língua só delas, que só elas entendiam.

Passarinho não conseguia dormir, pensando no que estaria acontecendo lá no alto do céu. Mas, como estava muito cansado, acabou pegando no sono e só acordou quando o sol raiou e o galo cantou.

Bem disposto, foi voando de árvore em árvore perguntando aos outros pássaros se também tinham percebido algo diferente no céu azul escuro da noite anterior.

O sabiá-laranjeira não tinha visto nada diferente… O bem-te-vi e o joão-de-barro tinham dormido bem a noite toda… E assim foi com os outros pássaros que encontrou.

Foi o beija-flor quem lhe deu uma pista: “você deve perguntar à coruja, a senhora da noite. Ela sabe tudo o que acontece quando a lua está no céu”.

Pois então Passarinho foi ter uma conversa com a coruja. Dona Coruja achou estranho um passarinho ter percebido que as estrelas estavam combinando os detalhes para o Conselho das Estrelas, que aconteceria em duas noites. Esta é uma noite especial em que as estrelas escolhem um único desejo para realizar: pode ser desejo de gente, de bicho, de planta…

Todas juntas se reúnem e decidem a melhor maneira de realizar o pedido.

E o Passarinho, ele tinha um desejo secreto! O seu irmão, Passarinhozinho, bem pequenininho, nunca, nunca tinha conseguido dar mais do que um pio, muito menos cantar. Sua família era de exímios cantadores! Ele queria que o seu irmão aprendesse a piar e a cantar como todos os passarinhos da sua família.

Será que as estrelas realizariam o seu pedido no dia do Conselho das Estrelas? O que era preciso fazer para que escolhessem  o seu pedido?

“Nada”, respondeu a coruja. “As estrelas decidem quem será o felizardo: se uma planta, um bicho ou gente. Basta pedir a elas, do fundo do coração”.

A noite já se aproximava e Passarinho queria tentar a sorte. Lá do seu ninho, olhou para as estrelas e fez o seu pedido, do fundo do seu coração. E adormeceu.

Quando o sol raiou e o galo cantou, ele já estava acordado. Conversou com outros passarinhos, voou de galho em galho, comeu frutinhas nas árvores, carregou sementes de um lado para o outro. E o dia passou sem ele perceber.

Aquela seria a noite do Conselho das Estrelas. Será que ouviram o seu pedido? Será que ajudariam o seu irmão a piar e cantar?

Passarinho decidiu passar a noite com Passarinhozinho. Ficaram juntos, brincaram, riram, comeram, olharam para o céu. Eram dois irmãos diferentes, que se queriam muito bem. Um só soltava um pio. O outro cantava como o pai.

Do alto do escuro céu, o Conselho das Estrelas estava oficialmente reunido. Era o momento de decidir qual pedido iriam contemplar.

Depois de certo impasse e indecisão, a escolha estava feita: atenderiam o pedido de alguém que, com o coração generoso, não tinha pedido algo para si, mas para alguém querido.

Naquela noite, luzes desceram das estrelas, que estavam silenciosas. Era a noite mais tranquila que já se vira.

Ao amanhecer, Passarinho acordou com a mesma disposição de sempre. Mas havia algo diferente no ar. Seu irmão já estava acordado, voando de um lado para o outro, pegando folhas, pétalas, sementes, galhos, raminhos. Ele não entendeu nada! Seu irmão sempre acordava mais tarde!

Passarinhozinho usava todos aqueles materiais para fazer coisas diferentes, coisas que nenhum outro passarinho tinha feito. E até que ficava bem bonito! Quando terminou, ele fez pio-pio-pio. Três piados e não só um! Mas ele ainda não conseguia cantar como um passarinho…

Passarinho ficou triste. Parece que as estrelas não tinham atendido o seu pedido por completo. Que pena…

E Passarinhozinho, todo animado, não parava quieto. Mal terminava uma obra, já começava outra. Os outros pássaros estavam admirados, não conheciam esse talento do Passarinhozinho, aquele que não sabia cantar. Ele era um verdadeiro pássaro construtor, um inventor, um artista!

A partir de então, todos os dias, o irmão caçula tinha uma ideia mais bonita do que a outra, mais criativa e irreverente. E estava sempre construindo, inventando, criando!

O tempo passou e ele ficou conhecido como o Pássaro das Mil Ideias. Nunca existira um pássaro com um talento como esse!

Numa noite, lá do seu ninho, Passarinho olhou para as estrelas que cintilavam em calmaria. Queria saber quando haveria um novo Conselho das Estrelas para tentar um novo pedido para que seu irmão se tornasse um pássaro cantor como todos da família. Quem sabe dessa vez ele conseguiria ser atendido?

E foi então que viu uma estrela brilhar muito forte, tão forte, que Passarinho não podia enxergar mais nada. Em poucos segundos, todo aquele brilho tinha desaparecido. O seu coração batia acelerado. Agora ele conseguia ver. E entender que o seu pedido já tinha sido atendido!

O seu irmão já dava três pios e, às vezes, cinco, seis piados seguidos. O verdadeiro talento do seu irmão não era ser um pássaro cantor. Ele tinha um dom único, que era só dele: ele era o Pássaro das Mil Ideias.

Passarinho olhou para as estrelas e sorriu. Agradeceu o Conselho das Estrelas, que sempre sabe a melhor maneira de atender um pedido que vem do fundo do coração.

As estrelas o presentearam duas vezes: revelando o talento de seu irmão e ensinando-o que cada um tem o seu dom e um caminho único para trilhar.

Passarinho se tornou um grande amigo das estrelas, pois elas o ensinaram, a ouvir o seu coração.

Desde então, os passarinhos se tornaram os mensageiros das estrelas. Sempre que eles se aproximam de uma planta, bicho ou gente é porque eles querem  lhe contar uma mensagem das estrelas.

(Fique atento quando um passarinho se aproximar de você!)

 

Ana Flávia Basso, do Educar com Histórias

 

 

27 thoughts on “Conheça uma história que é um coringa, multiúso!

  1. Adorei de “montão “a sua história.! Linda…!
    Linda … Quem a escutar vai se encantar,assim como eu fiquei ao lê-la.
    Obrigada por nos enriquecer com suas historias. Um grande abraço.
    Neide Fiuza.

    1. Ah, Neide, como fico feliz com o seu retorno carinhoso! Quando a gente cria uma história, fica meio reticente, pensando se vão gostar ou não.
      Bom saber que você curtiu! Abraços

  2. Sou encantada com este seu precioso talento… adorei sua história e a oportunidade de conhecer mais sobre o tema da gagueira. Acompanho seu trabalho que muito me inspira… um “Piu… “ repleto de gratidão querida! ☀️☀️

    1. Olá, Marcia!
      Que bom que você gostou da história e se sentiu tocada pelo tema da gagueira. As histórias nos levam por caminhos inimagináveis! Adora essas possibilidades! Um “piu” com carinho pra você! Bjo

  3. Ana, gostei muito da mensagem que o texto traz. No meu caso foi uma ótima prática, tanto para a leitura quanto para praticar a minha fluência. O conteúdo me leva a refletir que dentro de cada pessoa há um dom, não necessariamente aquele desejado intelectualmente, não sendo contudo de menor importância.
    Obrigada por essa oportunidade.

    1. Olá, Isadora!
      Muito obrigada pelo retorno positivo. Sim, cada pessoa é única, tem algo que é só seu e o mundo precisa que mostremos isso que vive só em nós. Já imaginou um mundo em que cada um doa o seu talento? Eu já imaginei… Bjo grande

  4. Querida Ana Flávia, sua sensibilidade nos tocou profundamente. Com sua história, tão bem construída você alcança milhares de pessoas, principalmente aquelas que gaguejam e que precisam desse respeito, desse olhar carinhoso e ao mesmo tempo baseado na ciência. Sua pesquisa foi primorosa. Você captou a ideia fundamental e nos devolveu esse trabalho tão elaborado e delicado.
    Agradeço em meu nome, em nome do “Instituto Brasileiro de Fluência – IBF”, das pessoas que gaguejam e de suas famílias.
    Continuaremos seguindo seu incrível trabalho. Um abraço afetuoso.
    Ignês Maia Ribeiro

    1. Olá, Ignês!
      Foi um prazer enorme conhecer mais sobre a gagueira e receber o seu convite-desafio para criar uma história.
      Fico feliz que vocês tenham sido tocados pela narrativa que criei com muito carinho.
      Admiro o trabalho de vocês e farei sempre o possível para que mais pessoas o conheçam.
      Um forte abraço, Ana Flávia

  5. Oi Ana Flávia
    Já nos falamos uma vez pelo Face. Eu dou aulas de musicalização para bebês e sempre assisto seu canal. Indico em todos os cursos que dou para educadores.
    Linda essa história. Lindo ver que além do dom maravilhoso de narrar, vc também tem o dom de escrever.
    Obrigada por essa linda história.
    Bjs

    1. Olá, Sandra!
      Claro que me lembro de você! Bom te ver por aqui e receber sua mensagem.
      Muito obrigada pelo carinho e por divulgar esse trabalho que venho compartilhando.
      Bom saber que a história chegou ao seu coração. Bjo grande

  6. Linda história, não é fácil para uma criança que gagueja se fazer entender e conquistar o respeito e paciência dos ouvintes. Conheço bem o trabalho da Ignes Maia Ribeiro , pois minha filha fez terapia com ela por algum tempo , existe muito conhecimento no que ela se propõe a fazer . Ótima parceria , aliando esse conhecimento em relação a gagueira com a sensibilidade de alguém que sabe tocar o coração de todos com suas maravilhosas histórias . Eu como mãe de uma criança que possui a gagueira e educadora , só tenho a agradecer!!

    1. Olá, Cristiane!
      É uma honra receber a sua mensagem. Foi pensando na sua filha e em tantas outras crianças que tentei me inspirar para criar essa história. Eu queria muito acertar, ajudar, contribuir. E suas palavras encheram o meu coração. Muito obrigada! Bjo pras duas

  7. Olá Ana!
    Quanta leveza ,suavidade e compromisso para nos ajudar com um tema tão pouco difundido que é a gagueira. Obrigada por mais uma preciosa contribuição e parabéns pela história.

    1. Olá, Sandra! Fico muito feliz por saber que o tema da gagueira te sensibilizou e que a história tocou o seu coração. Muito obrigada pelo retorno mais que positivo. Abraços

  8. Boa Tarde Ana Flávia!
    Que linda história…Cheguei me emocionar.
    Obrigada por compartilhar conosco seus saberes.

    1. Olá, Telma!
      Fico feliz que tenha gostado e se emocionado com a história! Sinal de que ela chegou ao seu coração!
      Abraços

  9. Parabéns Ana pelo lindo trabalho ! Aprendo muito com vc e amo contar suas histórias, agora nem tão frequentemente. O seu sucesso fez parte da minha vida e do meu trabalho.
    História contadas com emoção ficam guardadas no coração!
    Articuladora de leitura Ana Lucia

    1. Olá, Ana Lucia!
      Que maravilha saber que você se beneficiou com as dicas compartilhadas por aqui!
      E que as histórias chegaram ao seu coração!
      Tem fases em que a gente conta mais histórias e fases menos agitadas. Mas quem conta, carrega em si – para sempre – o gosto pelas narrativas e pelo encantamento nos olhos dos ouvintes.
      Abraços

  10. Boa tarde Ana Flávia!

    Simplesmente encantada com este universo, preciso me vigiar, pois sou capaz de ficar horas ouvindo seus videos, visitando seus espaços na mídia. Aos meus 56 anos me sinto um filhote de passarinho no ninho querendo sugar tudo, aprender e aprender, para atrevidamente tentar voar neste universo encantador de contar histórias.
    Não sei onde este voo vai me levar, mas o encantamento pessoal já me beneficiou.
    Parabéns e obrigada.
    Celina Lopes

    1. Olá, Celina! Que mensagem mais bonita e emocionante de ler! As histórias encantam mesmo e elas nos levam para onde temos que ir. Há tanta sabedoria por trás disso! Bom quando a gente está de coração aberto para ouvir o que elas têm a nos dizer! Pelo que percebi, você tem escutado tudo o que elas têm dito ao seu coração. Um forte abraço, Ana Flávia

  11. Muito me emocionou, Ana Flávoa. Somos seres únicos e cada um de nós carrega um dom em si. Obrigada por partilhar o seu com essa linda historis.

    1. Olá, Sônia! É isso mesmo: somos únicos! Que bom saber que você gostou da história. Abraços, Ana Flávia

  12. Ana, vou fazer 50 anos e todos os dias pedia às estrelas que me dessem tal ou tal dom… demorei muito até que a vida me trouxesse aqui pra te ouvir… obrigada!

    1. Olá, Fabíola! Não importa o tempo que a vida leva, o importante é que você chegou até aqui! Fico feliz que tenha vindo e recebido a história em seu coração. Um forte abraço!

  13. A maneira como você abordou o tema das dificuldades individuais foi tao brilhante que conseguiu colocar a falta da fluência na linguagem como uma mera diferença individual. Fiquei encantada e, com certeza vou contar muitas vezes essa história para os diferentes universos infantis com que trabalho.

    1. Olá, Shirlei! Que bom que gostou e se animou para cotar a história! Abraços

  14. Que história mais linda! Sou professora e mãe de uma criança especial! Com certeza essa história entrará no meu repertório! Gratidão por sua sensibilidade e empatia!

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