Semana Especial – Histórias de Anões, Duendes e Gnomos, de 20 a 25/08/2018.

 

Hoje é dia de um conto dos irmãos Grimm, menos conhecido do que os tradicionais “A gata borralheira”, “Branca de Neve”, “Rapunzel”, “Os músicos de Bremen”, “O gato-de-botas”, entre outros.

É um conto popular belíssimo, com muitas imagens profundas. Merece ser mais conhecido e difundido. Ele se chama “O gnomo”. Pode ser contado para crianças entre 4 e 7 anos.

Espero que saboreie essa narrativa e consiga espalhá-la por aí! Até breve!

Um forte abraço,
Ana Flávia Basso,

 

“O gnomo” (Irmãos Grimm)

 

Houve, uma vez, um rei muito rico, que tinha três filhas; todos os dias elas iam passear no jardim do castelo. O rei gostava, imensamente, de belas árvores e havia uma pela qual ele tinha predileção. Tanto gostava dela que ninguém podia tocá-la e, se alguém ousasse comer uma de suas maçãs, ele rogava-lhe uma praga para que afundasse pela terra adentro.

Quando chegou o outono, as maçãs amadureceram, ficando vermelhas como sangue. As três jovens iam, diariamente, debaixo da macieira com a esperança de que o vento tivesse derrubado alguma maçã; mas em vão, nunca encontravam nada, embora estivesse tão carregada que os galhos pendiam até ao chão.

Então, a mais moça das três sentiu um forte desejo por uma maçã e, um dia, não resistindo mais, disse às irmãs:

– “Nosso pai nos ama demasiado para que sua praga recaia sobre nós; acredito que ele só faria isso com os estranhos”. E assim dizendo, a jovem colheu uma esplêndida maçã e, dirigindo-se às irmãs, disse-lhes:

– “Ah, queridas irmãzinhas, provem um bocadinho! Em toda minha vida jamais comi uma fruta tão gostosa”.

As outras irmãs comeram um pouco da maçã e, imediatamente, as três afundaram pela terra adentro, para onde já não se ouvia o galo cantar, e ninguém ficou sabendo.

Ao meio-dia, o rei chamou-as para almoçar, mas elas não podiam ser encontradas em nenhum lugar. Procurou-as por toda parte no castelo e no jardim, mas não as encontrou. Muito aborrecido com o desaparecimento delas, mandou anunciar por todo o reino que, quem encontrasse as três princesas, receberia uma delas como esposa.

Foi um alvoroço geral; muitos jovens partiram de seus lares, fazendo o impossível para encontrá-las, pois as princesas eram muito queridas pelos seus dotes de bondade, gentileza e beleza. Três jovens caçadores também saíram à procura e, após oito dias de busca incessante, chegaram a um enorme castelo no qual havia salões maravilhosos; em um desses salões, viram uma mesa posta, coberta de iguarias delicadas, tão quentes que ainda fumegavam; mas em todo o castelo, nada se ouvia, nem se via alma viva.

Eles esperaram ali, ao longo de meio dia e as iguarias continuavam sempre quentes e fumegantes; por fim, como estavam com muita fome, resolveram sentar-se à mesa e comer. Depois, decidiram de comum acordo que ficariam e viveriam no castelo e que tirariam a sorte para decidir qual deles permaneceria no castelo enquanto os outros dois iriam à procura das filhas do rei. Assim fizeram e, por sorte, coube ao mais velho ficar de plantão. No dia seguinte, os dois mais moços saíram à procura das princesas, enquanto o mais velho ficou em casa.

Quando deu meio-dia, o irmão mais velho viu chegar um gnomo, o qual lhe pediu um bocadinho de pão; o caçador cortou uma grande fatia, estendendo-a ao gnomo, que a deixou cair no chão; o gnomo pediu-lhe, por favor, que a apanhasse. O caçador obedeceu e abaixou-se para pegar a fatia; nisso o gnomo agarrou-o pelos cabelos e encheu-o de bordoadas.

No dia seguinte, foi a vez do segundo caçador ficar em casa e não teve melhor sorte. Ao anoitecer, quando os outros regressaram, o mais velho perguntou:

– “Que tal? Como andaram as coisas?”

– “Oh, da pior maneira possível”, respondeu o outro. E então os dois lamentaram suas provações, mas nada disseram ao mais moço, pois não o suportavam e tratavam-no sempre de João-Bobo, justamente porque era muito simples.

No terceiro dia, o mais novo ficou em casa e os outros partiram. Ao meio-dia, chegou o gnomo e pediu-lhe um pedaço de pão. O rapaz deu-lhe o pão e o gnomo deixou-o cair, como das outras vezes, pedindo-lhe que fosse bom e o apanhasse; então João-Bobo respondeu:

– “Como assim? Você mesmo não pode apanhá-lo? Se não queres ter trabalho para ganhar teu pão cotidiano, também não mereces comê-lo”.

O gnomo ficou furioso e exigiu que ele o apanhasse; mas o moço, sem perder tempo, agarrou o gnomo e o golpeou valentemente. O gnomo gritava e choramingava:

– “Chega, chega! Larga-me; eu te contarei onde estão as filhas do rei”.

Ouvindo isso, o moço largou-o e o gnomo contou-lhe que ele vivia sob a terra e que havia mais de mil outros como ele. Disse-lhe que se o seguisse, ele lhe mostraria onde estavam as princesas.

Mostrou-lhe, então, um poço muito fundo, mas sem água dentro. Sabia, continuou o gnomo, que seus irmãos não eram sinceros e não tinham boas intenções para com ele; portanto, se quisesse libertar as princesas, teria que agir sozinho. Os dois irmãos mais velhos também desejavam muito encontrar as filhas do rei, mas não queriam ter muito trabalho ou correr perigo. Deu-lhe, pois, todas as instruções.

Antes de mais nada, deveria munir-se de um grande cesto, sentar-se dentro com um facão de caça e um sino; depois, desceria ao fundo do poço; lá encontraria três quartos; dentro de cada um deles estaria uma princesa guardada por um dragão enorme com muitas cabeças; ele teria de cortá-las, todas.

Após ter dito tudo isso, o gnomo desapareceu.

Ao anoitecer, os outros dois irmãos regressaram e perguntaram-lhe como tinham corrido as coisas.

– “Oh, não correram mal de todo! Não vi alma viva até o meio-dia, quando apareceu um gnomo que me pediu um pedaço de pão”.

Em seguida, contou que, tendo-lhe dado o pão, o gnomo deixara-o cair, pedindo que o apanhasse; como se negasse a fazê-lo, o gnomo enfureceu-se; então, pegara-o e dera-lhe tamanha surra que o gnomo acabara por lhe revelar onde se encontravam as princesas.

Os outros dois caçadores ficaram verdes e amarelos de raiva. Mas, na manhã seguinte, foram todos juntos até onde se achava o poço e lá tiraram a sorte para ver quem desceria primeiro. Coube ao mais velho, que entrou no cesto munido do facão e do sino, dizendo:

– “Quando eu tocar o sino, puxem-me para cima, imediatamente”.

Mal acabara de descer, ouviu-se o sino tocando; então puxaram-no depressa para cima. Em seguida, foi o segundo, que procedeu da mesma forma; e, finalmente, chegou a vez do terceiro; entrou no cesto e desceu até ao fundo do poço.

Lá embaixo, saiu do cesto e, com o facão de caça na mão, postou-se diante de uma porta e escutou; ouviu o dragão roncando muito alto. Com cuidado, abriu a porta e entrou no quarto, onde viu a princesa mais velha com as nove cabeças do dragão reclinadas no colo. O moço, então, agarrou prontamente a faca e, com alguns vigorosos golpes bem dados, decepou as nove cabeças.

A princesa levantou-se de um pulo, atirou-se aos seus braços, beijando-o e abraçando-o com grande alegria; em seguida, tirou um colar de ouro vermelho e colocou no pescoço do caçador.

Então, ele foi à outra porta e lá viu a segunda princesa, tendo no colo sete cabeças de outro dragão; não teve dificuldades em libertar essa também. Depois, foi ao quarto onde estava a mais moça, tendo ao colo quatro cabeças de outro dragão. E fez o mesmo que fizera aos outros.

A alegria das três irmãs era indescritível, não paravam de abraçar e beijar o rapaz e fazer mil perguntas. Então, João-Bobo agitou, com força, o sino e, assim que os irmãos lhe mandaram o cesto, fez subir as princesas, uma de cada vez; mas, quando chegou a vez dele, lembrou-se da advertência do gnomo a respeito das más intenções dos irmãos. Então, apanhou uma grande pedra e colocou-a dentro do cesto e, quando este ia subindo e já estava na metade do caminho, os cruéis irmãos cortaram a corda e o cesto despencou com o peso da pedra.

Os dois malvados, julgando que João-Bobo tivesse morrido, fugiram mais que depressa com as três princesas, obrigando-as a prometer que diriam ao rei terem sido salvas por eles dois. Chegando ao castelo, pediram as princesas em casamento.

Nesse meio tempo, João-Bobo perambulava sozinho e tristonho por entre os quartos onde matara os dragões, pensando que acabaria seus dias ali. Foi quando percebeu uma flauta pendurada na parede; muito admirado, perguntou.

– “Que fazes aí dependurada nessa parede? Aqui ninguém pode sentir-se tão alegre, que tenha vontade de tocar!”

Depois, contemplou as cabeças dos dragões e disse:

– “Nem vocês podem me ajudar agora!”

E continuou passeando de um lado para outro até fazer com que o pavimento ficasse liso. Cansado, teve uma ideia: tirou a flauta da parede e pôs-se a tocar algumas notas; nisso viu chegar uma quantidade enorme de gnomos. Cada nota que saía da flauta chamava mais outros, e chegaram tantos que ele não os poderia contar. Ele tocou até que o quarto ficou completamente cheio.

 

 

Perguntaram-lhe o que desejava, e ele respondeu que queria regressar à terra e ver a luz do dia. Então os gnomos, todos juntos, cada um pegando num fio de cabelo do rapaz, saíram voando com ele até à superfície da terra.

Uma vez fora do poço, João-Bobo foi ao castelo do rei, onde faziam os preparativos para as bodas da princesa mais velha; dirigiu-se, diretamente, ao salão em que se achava o rei com as três filhas. Estas, ao vê-lo, ficaram tão assustadas que desmaiaram. Diante disso, o rei enfureceu-se e mandou prendê-lo, julgando que aí estava para fazer algum mal às jovens.

Mas quando as princesas recobraram os sentidos, logo pediram ao rei que o pusesse em liberdade. O pai quis saber a razão de tudo aquilo, elas, porém, disseram que não podiam falar. Achando inútil insistir, o pai disse que poderiam jogar o segredo dentro do fogo; em seguida, retirou-se e ficou atrás da porta e de lá ouviu tudo o que elas disseram entre si e ao fogo.

Em seguida, mandou chamar os dois irmãos perversos e condenou-os à morte. Ao mais novo, deu a mão de sua filha mais nova em casamento e estes viveram muito felizes.

Na ocasião, eu calçava um par de sapatos de vidro, tropecei numa pedra, o vidro fez “tilim” e os sapatos se quebraram.

 

 

 Para conhecer a história de ontem, clique AQUI.

 

4 thoughts on “Semana Especial – 4ª história sobre Anões, Duendes e Gnomos

    1. Excelente, mesmo, Joelma! E pouco conhecida! Merece ser mais divulgada e contada. Bjos

  1. Bom dia, Ana .
    Gostaria de algumas orientações sobre como memorizar, decorar, internalizar histórias mais longas e não precisar fazer a leitura das histórias.
    Grata,
    Alici

    1. Olá, Aliciane!
      Esse é um tema complexo pra eu explicar rapidamente aqui…
      Eu trabalho esse tema em meus cursos e não é nada rápido… Posso planejar para o início do próximo ano um vídeo que te ajude a começar a se desenvolver nesse caminho e ficar independente dos textos escritos e das leituras.
      Pode ser?
      Bjos, Ana Flávia

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