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Estamos no coração do inverno — essa estação que convida tudo na natureza a se recolher, a silenciar, a ir pra dentro. E se a gente prestar atenção, o nosso corpo também sente esse chamado. Eu, por exemplo, fico mais filosófica, com aquela vontade de conversar sobre coisas que realmente importam, que tocam a alma.

E é aí que uma palavra vem batendo forte no meu peito há alguns invernos: interioridade.

O que é interioridade?

É esse espaço dentro da gente onde mora o silêncio, a criatividade, a intuição. Um lugar que precisa de tempo, de vazio fértil, de escuta.

O problema é que hoje, tanto adultos quanto crianças, estão vivendo num ritmo tão acelerado, que essa dimensão está sendo sufocada. E olha… na educação infantil, então? Quase não se fala disso.

A prioridade virou lista de afazeres:

  • alimentação balanceada
  • rotina de sono
  • escola
  • atividades extracurriculares (natação, ballet, musicalização, etc.)

E sim, muita coisa aí é importante. Mas e o espaço interior da criança? Onde entra?

Antes de tudo: a criança precisa formar o corpo

Até os 7 anos, a tarefa central da criança é encarnar — literalmente tornar carne, construir o seu corpo, seu templo.

E isso se dá de um jeito muito mais simples (e poderoso) do que parece:

  • Engatinhar, correr, saltar, rolar, andar
  • Aprender a falar, conversar, cantar, ouvir
  • Subir em árvores, construir cabanas
  • Cuidar de plantas e animais
  • Cozinhar, varrer, lavar louça, passar geleia no pão
  • Sentir o vento, observar o céu, se molhar na chuva

Ou seja: movimento! Aprender com o corpo, pela experiência sensorial.

Quando o corpo é bem formado, ele se torna abrigo seguro para a individualidade da criança. E é aí que a interioridade floresce.

Mas como cultivar interioridade nas crianças?

Aqui vem a parte prática, amiga. Coisa boa, pé no chão, que cabe na rotina:

1. Conte histórias

Histórias têm o poder de criar imagens internas, fortalecer o mundo simbólico e nutrir a alma da criança.

2. Proporcione tempo livre

Sem direção. Sem “o que fazer agora”. Brincar sem roteiro é essencial pra que a criança acesse o que está dentro dela.

3. Ofereça brinquedos pouco estruturados

Panos, caixotes, gravetos, pedras. São matéria-prima pra imaginação correr solta.

4. Crie pequenos rituais

Acender uma vela no jantar. Cantar uma mesma canção na hora de dormir. Pequenas repetições cheias de intenção nutrem a alma.

5. Esteja presente de verdade

Olho no olho. Escuta ativa. Quando a criança sente que alguém está realmente com ela, ela se sente inteira.

6. Dê espaço para o tédio

Sim! É no tédio que nasce a criatividade. Deixe que ela descubra, de dentro pra fora, como lidar com o tédio.

7. Diminua as telas

Menos estímulo externo, mais espaço interno. Isso vale ouro.

8. Ofereça natureza todos os dias (se possível)

Mesmo um vasinho de planta na varanda ou um banho de sol já são encontros com o mundo natural.

Interioridade se cultiva com tempo, presença e escuta

Essa é a beleza do inverno. Ele nos lembra que há força no recolhimento. Que a semente precisa do escuro da terra antes de florescer.

Se você — mãe, educadora — puder oferecer esses espaços e esses tempos para a criança, ela vai crescer sabendo que existe algo precioso dentro dela. Algo que ninguém pode tirar. Um lar.

E você? Está ouvindo o chamado do inverno aí dentro?

Abraços invernais,

Ana Flávia Basso

@anaflavia.basso

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