Um dia essa dúvida vai surgir, se é que ainda não surgiu: eu posso ou não repetir uma história?
O tema de hoje é repetição.
Tem dias em que nós adultos não aguentamos mais contar a mesma história. Isso acontece, a gente tem que ser sincero!
Então, a gente vai lá, escolhe uma história nova, começa a contar e a criança diz: “ah, conta de novo aquela do príncipe, vai?” Justamente aquela que a gente não queria mais repetir…
O que você faria nessa situação: insistiria na história nova ou repetiria a antiga?
Na verdade, a questão central deveria ser o que é melhor para a criança – conhecer um repertório enorme de histórias ou ter a chance de ouvir a mesma mais vezes?
Nós vivemos em uma época que valoriza o máximo de estímulos, de variedade e de consumo. Como se a quantidade garantisse a excelência. É só a gente ver quantos produtos e propagandas existem voltados ao público infantil.
Isso tudo faz com que a gente acredite que quanto mais, melhor.
E, desse ponto de vista, seria normal respondermos que o melhor para a criança é ouvir o máximo possível de histórias.
Agora, imagine uma criança que o tempo todo tem que lidar com estímulos novos e está sempre em estado de prontidão, tateando o desconhecido. Não deve ser muito fácil, né?
Já uma outra criança que tem a oportunidade de voltar a casa da vovó nas férias ou canta as mesmas canções no Natal, ela consegue aprofundar suas vivências, criar memórias. Diante de algo que ela já conhece, a criança se tranquiliza e consegue ver os detalhes, as minúcias que, num 1º momento, não dá para captar.
Quando a gente repete a história, a criança tem uma nova oportunidade de perceber as partes, os detalhes, de maneira diferente, até que o todo vai adquirindo uma dimensão especial. Olha quantas possibilidades ela pode ganhar quando a gente repete a mesma história!
O segredo é que, ouvindo a história mais vezes, a criança aprende a se envolver, ela tem tempo para se aprofundar e vivenciar a história dentro dela.
E, olha só, esse aprendizado que começa com as histórias se estende para a vida da criança como um todo. Assim, ela aprende:
- a perceber,
- a prestar atenção,
- a lidar com as partes e o todo,
- a não passar batido pelos estímulos que ela encontra em seu dia-a-dia,
- a não se contentar com a superficialidade que o mundo oferece atualmente,
- dentre tantas outras coisas…
Talvez a necessidade de variar seja muito mais de nós adultos, que temos nos entediado facilmente diante da repetição. A criança, ela gosta e aprende ao fazer de novo, ao ouvir de novo.
Assim, a gente não precisa ter medo de repetir porque, se a criança pediu, é porque ela ainda precisa de algo que aquela história tem.
E, pode ter certeza, quando ela não quiser mais ouvir, ela mesma mostrará que é hora de mudar!
E então, o que você fará agora quando ouvir de uma criança: “ah, conta de novo?”