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Quando Lucas, o menino de 8 anos, que mora aqui em casa, me pediu de repente para contar uma história, essa foi a que chegou na minha mente em primeiro lugar.
Não tive nenhuma dificuldade em contá-la, pois essa era a história que eu sempre pedia para minha mãe me contar. Por causa disso, eu sabia cada detalhe da história. Me lembrava perfeitamente de como ficava impressionada com o senhor que “tinha tantos filhos quanto os furos de uma peneira”.
Bem, mas não era só isso que me impressionava e intrigava.
No fundo, eu julgava muito o rapaz. Julgava pois ele não tinha feito nada. Ele “só” tinha ido falar com o rei. Ele “só” tinha matado o dragão. O touro tinha feito tudo!
Agora, um pouco mais velha, entendo que o jovem rapaz fez muito. E que ele nunca teria conseguido fazer nada sozinho. Ao confiar no seu touro, ele fez algo que para mim ainda é um desafio: ele confiou em algo maior. Mesmo quando ele quis desistir, ele ouviu ao touro.
Outra coisa que me prendia a essa história era o fato (um tanto cômico) de que eu sou do signo de touro. E assim, me sentia profundamente ligada a essa história. Sentia que eu também tinha nascido no mesmo dia de um touro com uma estrela na cabeça. Eu sentia esse touro dentro de mim, e a estrela também.
Talvez então, nos momentos em que só enxergamos montanhas e mares sem fim, devemos ouvir e confiar nesse nosso touro com a estrela na testa.
Ainda terá o dragão para enfrentarmos, mas também, haverá a princesa 🙂
A princesa do castelo em chamas
(Conto da Transilvânia, Romênia)
Era uma vez um homem que tinha tantos filhos quantos furos tem uma peneira. Todos os homens da aldeia já eram seus compadres. Ao nascer-lhe mais um filho, sentou-se na estrada para pedir ao primeiro transeunte que fosse padrinho da criança. Vinha então descendo a estrada um velho com um manto cor de cinza, ao qual ele fez o pedido, que foi aceito com prazer. Seguiram juntos o caminho e o velho ajudou a batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre uma vaca e um bezerro nascido no mesmo dia em que seu afilhado. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada e deveria pertencer ao menino.
Quando o menino cresceu, o bezerro se havia tornado um enorme touro, e juntos iam ambos todos os dias ao pasto. O touro sabia falar e, quando chegavam ao topo da montanha, dizia ao menino:
– “Fica aqui e dorme. Enquanto isso, vou procurar meu pasto”.
Assim que o pastor dormia, o touro corria como um raio até o grande pasto celeste e comia flores douradas de estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o menino, e iam então para casa. Isto se repetiu todos os dias até o menino alcançar a idade de vinte anos. Um dia, disse-lhe o touro:
– “Senta-te agora entre os meus chifres e eu te levarei até o Rei. Pede-lhe uma espada de ferro do tamanho de sete varas e dize-lhe que queres salvar sua filha”.
Logo eles estavam no castelo real. O pastor desceu e foi ter com o Rei; este lhe perguntou o motivo de sua vinda. Após ouvir a resposta, deu-lhe com prazer a espada desejada, mas sem muita esperança de poder rever sua filha. Muitos jovens audaciosos tinham em vão ousado libertá-la. Ela fora raptada por um dragão de doze cabeças, que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até lá, pois no caminho para seu castelo se encontrava uma serra imensamente alta, intransponível. E, mais além, um grande mar bravio. Adiante dele morava o dragão, em seu castelo de chamas. Mesmo se alguém conseguisse transpor a serra e o mar, ninguém lograria passar pelas chamas poderosas. E, mesmo tendo-as vencido, teria sido morto pelo dragão.
Quando o pastor obteve a espada, montou novamente entre os chifres do touro, e num instante, eles se encontraram diante da serra imensa.
– “Podemos voltar” – disse ele ao touro, pois achava impossível transpô-la.
O touro respondeu-lhe:
– “Espera apenas um instante!”
E desceu o rapaz ao chão. Mas tinha feito isso, deu um impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra inteira para o lado; e eles puderam seguir em frente.
O touro assentou o pastor novamente entre os chifres, e logo eles alcançaram o mar.
– “Agora podemos voltar” – disse o jovem – “pois ali ninguém consegue passar”.
– “Espera apenas um instante” – retrucou-lhe o touro – “e segura-te bem em meus chifres”.
Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar inteiro, e assim prosseguiram eles em chão seco, como sobre um gramado.
Logo chegaram ao Castelo de Chamas. Mas, já de longe, sentiram um calor tão imenso que era quase insuportável ao rapaz.
– “Pára” – gritou ele ao touro – “não vás em frente, senão vamos morrer queimados”.
O touro, porém, correu até bem perto e cuspiu de uma vez por sobre as chamas o mar que havia bebido, e elas rápido se apagaram. E logo uma fumaça enorme se elevou, enevoando todo o céu. Então, do vapor medonho, saltou o dragão de doze cabeças, enraivado.
– “Agora é tua vez” – disse o touro a seu amo. – “Vê se consegues cortar todas as cabeças do monstro de um só golpe”.
Ele juntou toda a sua força, tomou a espada poderosa com as mãos e golpeou tão rapidamente o monstro que todas as cabeças rolaram ao chão. O animal se contorceu e se debateu contra a terra com tal força que ela tremeu. O touro apanhou o corpo do dragão com seus chifres, arremessando-o ás nuvens; e nada mais se viu dele.
O touro disse ao pastor:
– “Minha tarefa chegou ao fim. Vai até o castelo, e lá encontrarás a princesa. Leva-a de volta a seu pai”.
Tendo dito isto, correu para o gramado celeste, e o rapaz nunca mais o viu.
O jovem se dirigiu ao castelo, onde encontrou a princesa, que se alegrou muito por estar livre do terrível dragão.
Regressaram ambos então ao país da princesa, onde se casaram; e uma enorme alegria invadiu todo o reino.
Indira Terciotti – cresceu com uma mãe que conhecia e contava muitas histórias. A menina sempre pedia a mesma história, e a mãe, era muito paciente…
Hoje, Indira tem 19 anos e procura novas histórias mundo a fora.
Ela conta histórias com suas mãos, em aulas de trabalhos manuais.
Linda historia tem confiança, obediência, humildade, coragem e espirito aventureiro da juventude. Coroado da mensagem da ação do bem que nos traz alegria.
Olá, Livônia! Essa história é um sucesso entre as crianças de Jardim! Muitas imagens bonitas. Beijos